sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Three Evidences

The 23rd is always a disturbing day, filled with the few recent memories that should be kept in the depths of my mind. Although it is her day and that somehow it would be nice to wish her well, I reckon it would definitely be a bad idea. Not that it would cause discomfort, the reason is a little more selfish than that. I mean, why bother doing something for someone that won't even care? You call, say hi and then comes that tone of voice that almost shouts "why the hell are YOU calling me?". The indifference is quite effective when it come to these cases. Whether you want or not, it is impossible not creating any expectation. And it also happens on the 13th and every now and then on the 24th. At least I could keep, although sometimes I do forget, the 14th and the 18th.

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Lately, making plans has become just as seldom as meeting interesting people. Not that one thing is directly related to the other - but knowing me a bit is enough to get the picture. Nevertheless, I started to plan, rearranged some things, researched about others. And I was excited, after all it is the fulfillment (or at least the beginning of) of a dream, and they are so scarce. Then comes the change and it is not something that is manageable. All of the sudden I have to make a choice that will most likely end or postpone the plan. Further to that, the decision will unleash inevitable consequences. At first, the shock and disappointment. So, I went out for lunch and once again I am reminded of what really matters. All of a sudden, this change is exactly what it takes to make other plans that were on hold starting moving again. In this case, it is not a matter of where but a matter of whom.
Anyway, it's not easy, although necessary, maintaining the stoic pose.

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It was a pleasant evening, we had dinner and talked about life and the past month-or-so since we last met. The topic was mainly about relationships and how our perspective changes along with our "lifetime elapsed". Bottom line is that we can group the main problems of a relationship within two topics - condition and search.
Condition is your current state of mind and state of life. If a relationship starts when one or both are in a bad state, it will most likely fail. Unless you don't get better, which is sick. Sometimes, people have to feign "illnesses" to make the relationship go on. Nonsense.
Search is about what you look for and that must be the corner stone of how to start a good relationship. Once settled, it must be pursued without wavering. Don't close doors but don't be afraid to slam them shut when it is not what you seek.

As Mr. Carroll once wrote: If you do not know where you want to get to, it doesn't matter which way you go. That is why the search is so arduous. Who searches anyone, becomes anyone. And will certainly find anyone.
This has nothing to do with the finding-the-one-and-living-happily-ever-after-crap. It is about finding someone that can make you happy and that can be happy with you.There is no way to face it with a half-assed attitude. After all, there is no such thing as being half-happy.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Puzzled

Desde criança, sempre gostou de montar quebra-cabeças. O encaixe perfeito das peças e o fato de ver aquele bando de peças aparentemente deformadas e sem sentido se tornarem juntas em algo tão bonito o deixavam fascinado. Ele não entendia, mas sabia que por mais que tudo estivesse desorganizado, uma hora tudo faria sentido.
Aos poucos, ele se tornou viciado no inebriante sabor do controle. Sabor que tem o aroma doce do mel mas, o gosto é de fel misturado com o amargor da desilusão. Mas até então, ele era apenas criança e sabia pouco. Talvez o bastante para entreter os seus iguais, mas não chegava no limite necessário para fazê-lo sentar-se à roda dos adultos.
Logo, os quebra-cabeças vinham com mais peças, desenhos mais complexos. E o tempo era tão fugidio, mal encontrava as beiradas e já era tempo de montar um outro. Ora se é montador, ora se é apenas peça. E, por crescer vendo o mundo se encaixar, acreditava piamente que tudo era um gigantesco quebra-cabeça. E que, mais cedo ou mais tarde, ele haveria de achar onde se encaixar. Pouco mais tarde, perceberia que mais importante que o onde é o em quem. E quebrou a cabeça para encontrar a tal da peça de encaixe, mas não conseguiu.
Em tese, encontrar essa peça não é tão difícil. O espectro é amplo, as opções variadas e os pontos de possível convergência são diversos. Mas aí entra a questão do encaixe perfeito. Quando montava um quebra-cabeça, tentava vez ou outra encaixar peças que pareciam ser corretas, mas que não eram de encaixe perfeito. Uma aresta era mais arredondada ou o desenho não fazia sentido. Não adianta apenas encaixar, tem que fazer sentido para quem vê lá de cima.
Na vida, ele aprendeu que as peças não são como as dos quebra-cabeças que não mudam. Na vida real, as peças mudam o encaixe e até ocultam o desenho sobre si. Além disso, não se consegue ver a peça inteira logo de cara. É preciso tempo para conhecer os lados, ver o desenho e perceber se há ou não o encaixe.
Há de se lidar com a realidade de que se pode não ver o desenho completo, que se pode não achar a tal da peça de encaixe perfeito e, pior ainda, de já ter se relacionado com a peça e por não aceitar que haveria mudança ou por não ter se empenhado em descobrir mais sobre ela, tem que vê-la encaixada com outra. De ontem em diante, aprendeu a não abrir mão da chance de conhecer as peças que lhe parecem encaixáveis. Mas, independente da ignorância, pagamos pelos nossos atos.
Para ele, não há nada mais frustrante que um quebra-cabeça incompleto. E ele torce. Faz figa com todos os dedos. Dobra os joelhos para que peça. Pede que a sua peça não tenha se encaixado. E pede também que volte a acreditar que, mesmo sem entender, uma hora tudo se organize e faça sentido.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Ainda dói quando faz frio

Quando nos preocupamos demais com os outros é quando estamos sendo mais egoístas. Não permitimos que aprendam, cresçam ou vivam sozinhos. Queremos de um jeito ingênuo estar sempre perto, saber se está bem, falar falar falar, tentar aconselhar e guiar pelo caminho em que cremos ser o mais correto a seguir. Apenas para impedir que a pessoa se mostre como realmente é. As dificuldades do dia a dia é que revelam quem de fato é cada pessoas. É perante a pressão e a tentação que nos revelamos. Fracos, infiéis, ineptos, titubeantes, humanos. E aí que aprendemos que estamos mais sozinho do que pensávamos e que no dia em que seu coração empurrar esse nó para sua garganta, a única pessoa de quem você pode de fato depender é você mesmo. Ninguém vai segurar a sua mão a não ser que você a estenda e peça ajuda. E mesmo assim podemos ficar com a mão estendida ao vazio. Então nós temos que nos apoiar, nos erguer, nos limpar e seguir. No espelho estão os únicos olhos que podem de fato olhar nos nossos e dizer que sabe o que sentimos. E talvez nem eles saibam.
E um dia nos deparamos com uma realidade que não conhecemos. Que não somos tão carinhosos ou caridosos assim, que não somos tão bons quanto nos relatam. Que somos frios, calculistas, vazios e egoístas. E nos perguntamos quando nos tornamos assim. Quando foi que isso nos aconteceu? Quando deixamos de amar, cuidar e escolhemos seguir um caminho voltado a nós mesmos?

E a realidade é mais assombrosa quando nos diz: "E quem disse que você mudou, que você se tornou assim? Será que você não foi sempre deste modo e, por um resquício de humanidade, você tentou mudar e falhou?"

No espelho, há apenas uma peça quadrada, sem encaixes e com o centro gelado.
No espelho, não há nós. Apenas eu.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Nova edição

Quis a sina de ser escritor, assina o escritor.

Ele não era um exímio escritor, mas fazia o seu melhor para escrever certo mesmo nas linhas tortas que lhe eram oferecidas. No caderno, as letras estavam apagadas, mesmo que o significado fosse indelével. Forçando a vista, ainda era possível ver o que estava escrito. Forçando a memória, ainda era possível lembrar-se de como havia sido traçada cada letra. E aí começa o novo ano, e dessa vez há um novo acordo ortográfico que altera a escrita em diversos modos. Se até os dicionários tiveram que ser reescritos, não há outra saída a não ser escrever de novo. Aproveitando para corrigir também o que foi escrito errado ou, talvez, melhorar aquilo que já havia sido escrito corretamente.

Perdeu-se em palavras, perdeu as palavras.

São nessas oportunidades que ele escolhe usar para acertar os trechos em que usou vírgulas e deveria ter usado pontos, prolongando as frases até perder o sentido. Ou quem sabe as vezes que mudou de linha ou trocou o parágrafo quando deveria ter escrito mais, explicando ou se fazendo entender. No texto da vida, ele era culpado por ora abreviar ora ser prolixo. Ele sabe que em certos pontos deveria ter insistido mais, ido além, deixar que suas letras se envolvessem e se tornar personagem e autor. Em outros, porém, deixou-se envolver demais, mesmo sabendo que o correto era soltar a caneta em um breve (e talvez dolorido) ponto final.

O que nunca foi e não deveria ter sido.

O que ele poderia dizer então das palavras que insistem em ficar juntas, mesmo quando desde o início deveriam estar separadas? A diferença é que na vida não há borracha e o que foi escrito assim permanece. Então ele recorre ao (não tão) bom e velho traço para separar o que não tem que estar junto e nunca é agradável, nunca é bonito. Apenas uma mancha que evidencia o erro. E ele escreveu assim a frase: "Por/isso, a/partir de hoje, con/certeza a/gente vai ficar juntos." E assim como as palavras separadas toscamente, foi também o destino das suas uniões equivocadas, serem encerradas deixando bem claro que a mão cursou o erro.

Água mole, pedra dura.

Aos poucos se acostumou com as regras do jogo, mas encarava com certa aversão o acento grave. Mal aparecia um “a” e lá estava ele craseando tudo, colocando gravidade em lugares que ás vezes não precisava. Lidar com o artigo feminino definido é difícil, pois se não tomar cuidado, o artigo se torna mais importante que a frase toda. E ele, como qualquer outro escritor masculino definido, tem a tendência absurda de deixar o artigo definido tomar conta.
E aí, sempre se acaba pecando pelo excesso e a situação, mesmo que seja um período simples, acaba recebendo uma gravidade exacerbada. Ele havia se envolvido com os artigos femininos errados na sua escrita e dá-lhe crase agravando a sua vida.

Metendo os pés pelas mãos.

Ortograficamente falando, ele não podia ser considerado um ás. Não sabia escolher as “amisades”, sempre estava “ancioso” com tudo. “Acim” que via alguma coisa que não gostasse, já ficava “nervozo”. Até com “dezenho” animado ele se irritava. No "ápse" do problema, aprendeu que devia usar mais a vírgula, afinal, é sempre bom dar uma pausa para respirar de vez em quando. Mas, bastava ficar irritado que tudo, que, ele, escrevia, era, separado, por, vírgulas. E lá se foi a paciência de novo.
O problema da vírgula é que ele acabava separando o que não se pode separar. E assim fica o sujeito de um lado e o predicado do outro, deixando os dois sem sentido, assim de um modo bem subjuntivo, mas sem a conjunção. E de tantas vírgulas que ele usou, entristeceu-se, pois até no seu prato de um lado o feijão e outro o arroz.

Edição de colecionador

Todo escritor é também um leitor. E cada leitor tem um gênero, um escritor, um livro e um trecho favoritos. Todo leitor é um colecionador. Ele não era diferente, guardava com carinho cada rascunho escrito, mesmo aqueles que foram escritos completamente errados. Aprendeu a colecionar as edições passadas da vida. Cada ano, cada edição lançada, há uma revisão, uma correção da anterior.
E no seu caderno, com as letras apagadas, as marcas ainda estão lá de cada volume (re)escrito.
Não se comete (em tese) os mesmo erros das edições anteriores. Mas na sua estante estão lá cada uma das edições que foram publicadas, servindo para si e para quem quer que interesse como base para se escrever melhor.

Ao revisar o seu texto, ele não se esqueceu dos erros. Ele não se esqueceu de si.