sexta-feira, 31 de julho de 2009

Medo de altura

Cada decisão tomada foi baseada no momento - seja este decorrente do acúmulo de acontecimentos ou na incompatibilidade com a continuação da rotina. No caso, a minha mudança foi pedir demissão de um emprego que me dava segurança financeira, ainda que temporária e sair sem uma nova oportunidade laboral, sem rumo a seguir.

Cada mudança de rota deve ser feita com dois principais passos - o primeiro é sair do caminho atual e o segundo é entrar no caminho novo. Vez ou outra, para se sair de um caminho deve-se parar. Em alguns dos casos, é necessário voltar pelo caminho, mesmo que seja na contramão.

O cenário do mundo inteiro diz que o ideal é se segurar e esperar a tempestade passar. O conselho na boca de jovens e anciãos é o mesmo: "melhor não arriscar em tempos como este", ou então "melhor pingar que faltar".
Mas, e quando o desespero não dá alternativa? Quando a angústia impede a razão? E quando o tempo se esgota no meio da turbulência? Quando se vê em queda livre, não se olha pra baixo para saber onde saltar, apenas puxamos a corda de nossos paraquedas.

O primeiro passo é sair da situação atual. É abandonar o navio à deriva, o avião em queda livre. E para isso, preparei meu paraquedas, meu bote salvavidas. Eles não me levarão para onde eu tenho que chegar, mas ao menos servem pra segurar as pontas para que eu comece a caminhada.

Para alguns dos observadores, pareceu um ato de coragem - no vôo em queda, apenas a tripulação sabe as reais motivações das mudanças de rota ou dos que se lançam ao ar dependendo de um pedaço de tecido que te impeça de morrer na queda. E a tripulação inteira era eu. Para outros, um ato inconsequente. Nesse ponto eu devo dar o braço a torcer - mas apenas parcialmente. Uma das consequências eu sabia, que era a de dar o primeiro passo para mudar meu caminho. Daí por diante, realmente não tinha como antever. Fui inconsequente, se assim querem dizer. Em suma, eu sabia que tinha que pular mas não tenho a mínima idéia de onde vou pousar.

E é neste ponto que me encontro: caindo lentamente em direção a um chão que ainda não vejo para começar uma caminhada para um local que ainda não sei. Não sei a que altura estou, não sei até quando terei que ficar com este paraquedas, não sei se vou aterrisar em segurança, não sei se terei que me livrar de coisas que carrego comigo. Tudo que sei é que tenho esse período até que meus pés toquem o chão (e eu realmente espero cair em terra firme) para decidir para onde vou e o que vou fazer. Ao mesmo tempo que desejo que essa queda acabe, temo que ela chegue ao fim antes que eu consiga estar pronto pra caminhar.

Por esse motivo que a insônia vem - eu quero empurrar o amanhã pra longe, cada dia que passa foi um que perdi sem tomar um rumo, uma decisão. E há também o receio de que quando eu chegue lá no chão, eu acabe tomando um outro avião destinado a uma nova queda, só que sem a possibilidade de pular de paraquedas.
Alguns me dizem que na maioria das vezes tudo que precisamos se encontra ao nosso alcance. A pergunta que não se cala é: como achar o que se procura sem saber o que é?

E a queda é algo que te faz solitário, porque ninguém consegue saber como é a sua queda. Do ponto que estou hoje apenas espero poder estar com pernas firmes e mente sólida para tomar meu novo rumo e cumprir a minha missão sem ter medo de cair ou de se arrepender.

Queria ser menos abstrato ou menos romanceado, mas tudo me parece tão passageiro, como se nada consiga de fato ser vinculado à realidade.
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quarta-feira, 29 de julho de 2009

Nihil novum sub solem

Se pudesse transcrever os pensamentos conflitantes em palavras de conclusão determinista, eu o faria.


Se pudesse trocar as dúvidas etéreas e calamitosas por certezas pétreas de decepção dilacerante, eu o faria.


Se pudesse abandonar a minha falsa existência patética e incompleta para abraçar uma vida isenta de sorrisos porém real, eu o faria.


Se pudesse renegar a ilusão de caminhar em círculos para viver em uma realidade inerte com os pés eternamente fixos em solo infértil, eu o faria.


Se pudesse ab-rogar uma carreira com vitórias e derrotas de lutas sem propósito por apenas uma luta memorável, imersa na vergonha indelével da derrota, eu o faria.


Se pudesse substituir a voz frágil que desfere meias palavras de um coração dobre pelo infindável silêncio da inexpressão, eu o faria.


Se pudesse abrir mão das diversas portas entreabertas e dos múltiplos devaneios de pseudo-esperança para me deparar com apenas uma porta, mesmo que fechada, cuja esperança já tenha se esvaído por completo, eu o faria.



Contudo, a cada passo, a minha miríade de diferentes caminhos reduz.



Quando optei por viver me desfiz das possibilidades de traçar o caminho fácil.


Quando optei por pensar, ofereci meus ombros voluntariamente ao limitante fardo do conhecimento.


Quando optei por crer, meus olhos foram imunizados contra a vista grossa da mediocridade.



Em tom claustrofóbico de fé minguante de quem busca a convicção além da razão.
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sábado, 18 de julho de 2009

Deaf eyes, tired heart

Mentiu quem disse que cada despedida se torna mais fácil.

Enxergo tudo como uma contagem regressiva. Cada despedida é pior porque sei que é uma a menos que tenho. Por isso não quero falar tchau. De costas, você não consegue ouvir o que meus olhos tem a te dizer.
Talvez por isso que você não olhe pra trás, porque há coisas que devem permanecer não ditas. Sei que com sentimento não tem fórmula, equação, estatísticas ou gráficos. Sei também que os medos e as preocupações que se alojam no meu peito possuem a mesma falta de exatidão. Mas prefiro abraçar a necessidade de colocar os pés no chão da razão, mesmo que isso signifique podar as asas dos sentimentos que começam a arriscar seu primeiro vôo.

A pior parte da despedida é perceber que a busca para me livrar da solidão ainda continua. No fim do dia, apesar da esperança, há a pungente certeza de que o coração ainda bate sozinho e que a noite vai ficar ainda mais fria. Cada dia a mais é um dia a menos, cada dia a mais de palavras não ditas é um a menos da convicção de que há (ou não) reciprocidade. E tudo segue acontecendo ao mesmo tempo, nesse turbilhão inexorável de paradoxos que consomem a existência do ser.

O silêncio que rege a harmonia é o mesmo que aniquila a fé.