segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

When the dawn dawned on me

Algumas vezes, eu deito na cama e penso que o dia acabou. Estou cansado e já dirigi demais. Já andei demais, ri demais e falei demais. Aí chega uma mensagem e eu, um pouco contrariado, abandono o edredon e pego mais uma vez a chave do carro.

Já fazia tempo, tempo demais. Muitos sóis se passaram enquanto o monstro estava debaixo da pedra. E da pedra tinha apenas o receio de ficar como Sísifo e ficar empurrando para cima aquilo que certamente cairia. O sol havia se posto outra vez, e eu não queria vê-lo de novo com essa pedra no sapato. A cabeça estava recostada na pedra e a pedra teria que ser removida.

Neste momento específico, faltavam 4 dias pro sol nascer.

Foi-se a pedra e amarrada nela a lista de pensamentos e suposições que eram mais pesadas que a pedra em si. E ela foi pra bem longe, pro fundo do mar do esquecimento. Debaixo da pedra, apenas a marca do que um dia foi. Mas na fenda deixada, mesmo que não parecia ter nada, havia um algo pequeno e de muito valor. Algo familiar. Então guardei de volta aquilo que ainda era meu. De volta para o peito.

No caminho de volta, nem mesmo a porta se fechou, veio o riso. Nada melhor que olhar para trás e ver que não há mais nada que luta para te prender por lá. Alguns segundos passaram e a mensagem já havia propagado o que fora cultivado nos últimos meses - os frutos de uma decisão correta. Não foi agradável, não foi fácil. Mas pela primeira vez, em tanto tempo, o mesmo caminho de volta pra casa que havia sido trilhado com receio e dúvidas, desta vez foi corrido com inigualável paz e com um sorriso igualmente extenso.

Ultimamente, a insônia me ajudava com a ilusão de empurrar o sol adiante. E, faltando 3 dias pro sol nascer, enquanto alguns dos raios já despontam indicando o fim da aurora, pela primeira vez em tempos desejei ver o sol nascer de novo.

Mais do que um ano que "promete", vejo que esse será um ano que "cumpre".

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Ho ho ho!

Nunca gostei dessa época do ano. Nunca fui muito fã de Natal e Ano Novo, nunca gostei também desta mania de todo mundo se ver, se abraçar e desejar feliz natal como se realmente se importassem com os outros. Quem realmente se importa, não espera até o natal para desejar coisas boas. Em casa nunca tivemos o costume de fazer uma ceia de natal, nada a ver com religião, apenas decorrência de uma família não muito unida. Talvez por isso eu sempre me sinto esquisito ao ver aquele bando de gente, inclusive os não-cristãos, se reunindo supostamente para comemorar o dia escolhido para celebrar o nascimento do menino Jesus.

It's Christmas time again, it's to be nice to the people you can't stand.

Outra coisa que eu não entendo também são essas mensagens "mala direta" de feliz natal. Não acho errado querer "coisas boas" para todo mundo, mas você só declara de fato para as pessoas que realmente são próximas. Você não vai sair pelas ruas entrando nas casas dos outros e desejando feliz natal a torto e a direito. Aqui no Brasil é bem provável que o espírito natalino não seja forte o bastante para te impedir de ser enxotado aos tapas. Mas essa ojeriza toda não existe apenas por causa natal, mas sim por todo "feliz qualquer coisa" que existe durante o ano. Recebi tanto no celular como na scrapbook alguns feliz natais. Sei que alguns deles foram pessoais, mensagens "exclusivas" (apenas pelo fato de não ter mandado a mesma coisa para todos). Mesmo assim, eu não respondo nenhuma.

You people scare me, please stay away from my home. If you don't wanna bring me down, just leave the presents and then leave me alone.

Esse ano, porém, foi um pouco diferente. No dia 25 fizemos um almoço em casa e reunimos parte da família (exceto meu pai). Foi muito divertido, comer com todo mundo e ficar batendo papo. Foi, de longe, o natal mais familiar que eu já tive. Geralmente, nesse período entre natal e ano novo é a minha época de "fechamento para balanço" - e quase sempre isso também resulta em um post aqui. Ter um natal diferente era um dos pontos que eu estipulei no fim do ano passado e definitivamente a sensação de missão cumprida deu novas cores ao festival natalino.

Alegria aos homens, paz e boa vontade na Terra.

Ainda não sai comprando presentes, colocando árvore de natal ou organizei um amigo secreto entre os familiares. Também não sai comprando cartões de natal e os comerciais de natal da Coca-Cola ainda me enojam (na verdade todos me enojam... que diabos de mundo fantástico é esse que eles inventaram? Pessoas pulando corda no topo dos prédios, ursos polares que bebem Coca e até um cérebro que manda a língua lamber sabão e o olho (não sei como) descascar cebola). Não que seja a comemoração do nascimento de Jesus, mas encarando como uma festa "a la Cristo", como Ele fazia no período aqui na Terra - comunhão, risadas, aproximação dos irmãos e amigos e, obviamente, bastante comida. O fato é que nesse ano, o natal foi menos intragável que nos últimos anos - quem sabe nos próximos anos eu até me torne um grande adepto da comemoração? Isso sim seria um milagre de natal.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Half

1

Desistindo
de mim mesmo
do mais do mesmo


2

Defina que definha.

3

Desafia que desafina.

4

Mesmo assim a lista do meu msn continua vazia.

5

Quando o mundo me estranha,
eu ainda confio em você.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Papo Animal

- Pô, você come que nem um porco e, de repente, sai correndo que nem um elefante e pula que nem uma gazela na frente do carro por causa do bicho de estimação daquela vaca? Você é burro?

- Ah, você sabe, sempre fui pato por cachorros. Sorte que a motorista era uma tartaruga. Vamos embora porque já tem um monte de urubu em volta e não vou ficar ouvindo essa maritaca papagaiando sobre o incidente.

- Tudo bem. Aliás, hoje vou sair com aquela gata da faculdade.

- Você tá galinha, hein? Essa mania de lobo mau ainda vai te fazer acordar com a boca cheia de formiga.

- Vira essa tromba pra lá! Tá pior que gato preto, seu veado.

- Melhor dar coice que nem cavalo do que dar abraço de tamanduá. Pelo menos não sou amigo da onça.

- Tem razão. Bom, vamos almoçar que eu to com uma fome de leão.

- Vê se acha um lugar perto que eu não quero andar que nem camelo!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Retalhos

A vida é uma colcha de retalhos literários. Mistura-se cartas com prosa, poesia com romance, ficção com confissões, sonetos com ou sem rimas. E é essa colcha que te cobre na hora de dormir. Um pouco em um dia, outro em outro.
E hoje é um dia daqueles que não acontecem apenas uma vez. Não lembro se é quarta ou quinta, não lembro também como é sentir que isso de algum modo faça diferença. Os dias são iguais e, junto com a minha insensibilidade em relação aos dias, não sei quando veio a minha indiferença em relação à vida, mas ela resolveu se instalar.


"Um rosto estranho fazia minha barba no espelho."


Dia sim, dia não, o rosto fica limpo e com esta cara lavada eu coloco meu disfarce de gente politicamente correto e vou para a minha via crucis diária. Ao contrário do que muitos pensam, apesar de ser o ápice da dor, o Gólgota também é o fim - e por isso é o lugar mais "esperado". Olho no relógio, 17h45 e mais um dia passou sem fazer diferença alguma. Olho no calendário, meados de dezembro e mais um ano passou sem que mudasse algo. Tenho essa fé de que na hora certa tudo se encaixa. O receio é não estar com as peças nas mãos na tal da hora.


"Esperou a hora certa, mas estava atrasado."


Você já pulou corda? Eu sempre achei divertido, um jogo interessante. Aprendi que se eu movimentasse minhas mãos junto com a corda, eu saberia o exato momento de começar a pular. E assim eu aprendi a dançar conforme a música, mesmo que usando os meus passos de dança. Até certo ponto, eu era o melhor pulador de corda. Não aos olhos do mundo, mas aos meus - afinal a idéia de ser considerado o melhor pulador de corda por alguém exceto a mim mesmo é extremamente decepcionante. O problema é que hoje, apesar de conseguir pular, eu não consigo me ver como o melhor. O mundo cresce demais e a gente fica tão pequenininho. Quando se é pequeno, se acha grande. Quando se fica grande, se percebe como se é pequeno.


"Lembrava mais do passado que do presente. Morreu empoeirado."


Esse conflito entre o ontem e o hoje é muito presente na minha vida. Tanto que muitas vezes eu acabo trocando o tempo verbal e, desse modo, eu faço a frase ou até o texto perder o sentido. Tem dia que eu nem sei pra que eu escrevo. Um dos segredos que eu uso é o de não confundir simples com fácil, nem complicado com difícil. Geralmente o que é simples se torna difícil e vice-versa. Talvez seja uma questão de semântica ou apenas a necessidade intrínseca de fazer a vida ser mais importante do que realmente é. E nesse vai-e-vem de disse-que-disse e chove-não-molha, eu tenho certeza que complico algumas coisas simples. E tento facilitar algumas difíceis. Faço da minha vida uma tentativa (frustrada?) de um paradoxo paralelo. O problema é que as linhas paralelas só se encontram no infinito.


"Achar que sexo era simples complicava sua vida."


Admito que sempre encarei o mundo de modo racional, lógico, matemático. Certas coisas devem ser divididas, algumas vezes se deve somar experiências e outras subtrair-se para que não multipliquem os problemas e as preocupações. Tenho facilidade de aplicar conceitos de uma área em outra. Acredito ser uma qualidade. A verdade é que dificilmente enxergo uma delas em mim e ultimamente até as que via foram se esvaindo, como miragens sendo desfeitas pela escura realidade. No deserto, durante o dia as coisas são diferentes - há receio com esperança, há risco, medo com coragem e ímpeto. Mas a noite é igual na cidade, no campo, no deserto e no mar. Ás vezes, a escuridão revela com mais clareza a realidade. Talvez porque no claro estamos expostos e por isso nos escondemos, nos guardamos embaixo da máscara. Mas à noite... Ah, a noite.


"Calculou o que estava mais vazio, o copo ou a noite."


Vez ou outra eu olho pra trás e penso se seria diferente se eu tivesse agido de outro modo. Se eu tivesse acreditado mais em mim e na gente, sabe? Aprendi que só olhamos pra trás com medo das coisas que não temos certeza do futuro no presente. Falando assim parece óbvio, mas o fato é que em todas as escolhas que eu fiz até hoje, em todas (exceto esta[s?]) eu consegui adquirir uma certeza de um futuro. Porque em alguns casos, ter vida não significa ter futuro. E uma curva errada é o bastante para seguir o caminho da vida sem ninguém no banco do passageiro. Enquanto eu não tenho certeza, eu me convenço de que estou certo e de que foi e acabou.


"Não era um grande amor, cabia em uma frase."


Uma vez eu ouvi que o segredo para acreditarem quando se mente é acreditar na mentira. No começo era mentira mesmo, eu mentia pra mim e pra todo mundo afinal, uma vez disseram que uma mentira dita muitas vezes se torna uma verdade. Apesar de não concordar com a frase e muito menos com o autor dela (Joseph Goebbels era uma espécie de RP de Hitler e a frase estava vinculada a algumas das muitas investidas anti-semitas dos nazistas), eu não via alternativa a não ser me convencer mesmo daquela verdade. Os amigos que caminhavam ao meu lado me ouviram por diversas vezes dizer que era o fim, que tudo havia acabado, apenas para me ver novamente cair em contradição atos x palavras. Eventualmente, quando eu resolvi parar de falar, a verdade aos poucos veio à tona. Acho que o tempo resolveu dar uma mão e aquilo que eu queria se tornou real. Não adianta falar muitas vezes, o segredo é simplesmente não falar. Apesar de hesitar por muito tempo, houve êxito. Não posto à prova, porém.


"Mas foi derrotado por sua própria vitória."


Apesar de não gostar do Paulo Coelho, concordo com uma frase, ou melhor, o título de um dos seus livros: O vencedor está só. Quando se sai de uma batalha árdua ou uma guerra, parece que temos que dar uns passos para trás para depois voltarmos a seguir em frente. Talvez para voltar à origem, curar as feridas, consertar os problemas, analisar os erros e por aí vai. A questão é que quando no campo de batalha, o retorno e o tratamento são feitos por quem se especializou nisso. Mas, e quando a batalha é contra você mesmo? A tendência ao ostracismo foi agravada e, pela primeira vez, vista com olhos destemidos. Em algumas situações, perder o medo é um mau sinal. Essa era uma delas.


"O amor é um elevador que não pára mais em meu andar."



A pior parte de se isolar do mundo é perceber que aos poucos o mundo faz questão de provar que você está conseguindo. Não é minha intenção "culpar" ninguém por agir de modo a isolar um ou outro. Na ostra da vida, apenas nós mesmos podemos fechar a concha. Se nós fechamos as portas, um dia as pessoas param de bater. E as coisas não são diferentes em relação a sentimentos. Se colocarmos aquelas faixas de isolamento, no começo as pessoas se aproximam por curiosidades mas logo se desinteressam. Se eu fosse um prédio, alguns andares estão lacrados, inacessíveis. Acho que eu vi o tamanho da bagunça que eu fiz na cozinha da minha vida que resolvi deixá-la assim, trancada. E aos poucos, como ninguém vinha mais visitar ou bater à porta, eu realmente voltei a acreditar que ninguém mais apareceria por lá. Do lado de dentro, silêncio. Do lado de fora, a dúvida. Será que ainda tem alguém lá dentro? Tem dia que eu acordo e tenho certeza de que eu nunca mais irei usar a chave para aquele andar. Seja para abrí-lo ou para emprestar a chave para alguma inquilina interessada.


"Às vezes, mesmo ausente, está lá."



Depois desse ponto, dificilmente acordar e me olhar no espelho era uma tarefa fácil. Escovando os dentes ou tomando banho, junto com a água, eu vi os sonhos, desejos e planos irem aos poucos pelo ralo. E tudo culminou nesse ponto. Eu me tornei uma folha em branco, uma história com muitas páginas e que agora, sem ter mais para onde desenvolver a minha trama, via a página em branco e a única vontade que existia era a de dar um ponto final em tudo. Como um seriado que foi cancelado no meio da temporada e às pressas se escreve um final qualquer e, assim, tudo acaba. Eu me cansei desse roteiro e não queria mais escrever. O ponto mais baixo da minha vida. Quartas e domingos eram iguais há tempos. Não tinha mais rostos novos e o escritor não tinha mais ímpeto para adicionar novas personagens. Não me acho mais alguém interessante a ponto de alguém novo querer fazer parte da minha vida. E essa idéia se instalou e eu pensei que a esperança não existia mais. Mas, recentemente, eu percebi que mesmo quando ela não está tão aparente, não quer dizer que ela não está presente. Curioso é ser capaz de acreditar em Deus e duvidar da minha existéncia. Mas na minha mente faz(ia) perfeito sentido.


"Era um conto muito velho, que só queria acabar."



Por muito tempo eu acreditei em conto de fadas. Aquela coisa toda de amor à primeira vista, mulher perfeita, castelos e magia. Acreditei em felizes para sempre. Acreditei em mulheres inocentes e que o mundo era cruel. Acreditei no melhor das pessoas e que poderia salvar o mundo. E, como sempre, um extremo tende ao outro. E eu deixei de acreditar. A melancolia por ter que traçar essa linha entre realidade e fantasia muitas vezes me engolia, mas não sem antes me mastigar e me deixar em pedaços. A linha estava sempre aquém do que eu gostaria e a realidade sempre pior do que eu acreditava.
Como eu disse no início, a vida é uma colcha de retalhos literários. No começo, os contos eram repletos de fantasia, alegria e a crença ininterrupta no melhor do mundo. Mas era tudo falso, pois não tinha base real, apenas a crença de um menino que via o mundo pela fantasia, nas histórias de gibi e nos livros do Pedro Bandeira. Eventualmente, se tornaram carregados com tristeza e determinismo. Eu realmente acreditei que estava chegando no meu Apocalipse. E se eu continuasse nessa linha, provavelmente chegaria lá.


"Desistiu de se matar e foi ver uma comédia. Morreu de rir."


O fato é que eu sou um romântico inveterado, acredito em amor eterno e que fazer uma mulher sorrir é metade do caminho andado para o coração dela. E mesmo que o mundo grite pra mim que isso é bobagem e que é apenas resquício de um sonho pueril, eu vejo claramente hoje que só sobrevive ao teste da realidade, aquilo que é mais forte que o mundo. E hoje ainda vive aqui dentro a fé, a criança que ri, a certeza do amor e a esperança de que os dias ainda serão diferentes de novo.

E uma conversa de 10 minutos pode mudar a conclusão do seu conto. Porque algumas pessoas fazem valer a pena mudar o roteiro.

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Inserts por A CASA DAS MIL PORTAS

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Rouba-monte

Em um certo ponto, a vida pára de nos dar coisas e começa tirá-las.


Vez ou outra, ouço de alguém que sou muito novo, que ainda tenho muito tempo, que não preciso me preocupar que "logo logo" tudo dará certo. Sempre ouço que em pouco tempo, eu vou acabar conquistando tudo aquilo que a vida tem pra mim. E eu tenho tentado ir atrás, do jeito que eu sei, do jeito que eu consigo. E, se chega um ponto que a vida começa a tirar as coisas da gente, e que esse momento chega quando ela pára de dar coisas novas, receio que tudo o que me dizem é um bando de tagarelice sem sentido.

Ao meu ver, eu já recebi tudo que a vida tinha pra me dar e vou gastando aos pouquinhos o que tenho pra não ficar sem. Curtir minha família, meus amigos, minha juventude, meu dia a dia. Cada dia é um a menos, é um mais perto do fim. É um dia a menos com minha mãe, minha irmã, meu pai. Um dia a menos com meus avós. Um a menos com meus amigos. Cada dia que passa é inclusive um dia a menos com a minha mulher ou simplesmente um dia a menos para perceber que ela nunca existiu.

Vejo tantos amigos que perderam entes queridos e vejo as marcas tão profundas que eles carregam. Não de arrependimento, não de rancor. Apenas aquela saudade que não pode ser extinta. Desde que vi um amigo perder o pai um tempo atrás, eu tomei uma decisão na minha vida que foi a de tentar aproveitar o máximo o tempo que tenho com as pessoas que amo. E me frustra muito ver que muitas vezes essa decisão só é tomada quando se é tarde. Abrir mão de uma noite de sono, de uma aula, de um dia em casa... atravessar a cidade ou até o estado para passar um pouco de tempo que seja com um amigo, um familiar. Gastar um pouco mais de dinheiro pra sair mais vezes, seja pra jantar, pra beber, pra dançar ou apenas pra rir muito.

Hoje li o texto de um amigo dizendo sobre "as coisas/pessoas que sentem falta de nós". E, questões de autoestima à parte, a conclusão do texto pra mim é a conclusão que tiro do rumo que quero levar pra minha vida: fazer tudo por aqueles que estão e permanecerão ao lado.

Quando o jogo da vida começa, as cartas são dadas. Aos poucos você conhece seus parceiros e percebe que o jogo inteiro é contra a falta de vida. Ou, a morte, se assim preferir. Você vai fazendo seu monte com aqueles que te cercam e do outro lado fica ela, esperando você vacilar e deixar a carta errada aparecer, só pra roubar tudo de você. Claro que podemos roubar o monte de volta. Mas Deus sabe que às vezes perdemos cartas que nunca mais recuperamos porque você já gastou a carta que poderia recuperá-la. De vez em quando, acabamos com as nossas cartas antes mesmo que o jogo acabe - e é nesse momento que ficamos olhando, impotentes, enquanto nossos montes trocam de mãos e as nossas cartas são separadas pra cá e pra lá. O que espero que nessa mesa tão grande, é que eu saiba dar minhas cartadas na hora certa.

Espero mesmo que já não tenha gastado minhas cartas antes do tempo. Porque se isso aconteceu, quando eu mais precisar será quando eu mais vou sofrer.
Espero mesmo que meu monte não acabe antes do jogo. Porque se isso acontecer, eu me tornarei uma carcaça vazia, um corpo sem alma.
Espero mesmo. Porque só me resta esperar. E proteger meu monte pra ela não roubar.


O curinga pode ser qualquer um, mas não é ninguém. O curinga não tem par.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

30 things I miss / 30 coisas que me dão saudade

I decided to write this text in both languages. Sometimes in one it makes more sense than in the other.
Decidi escrever esse texto nas duas línguas. Algumas vezes, faz mais sentido em uma do que na outra.

*** Heads-up for the readers... the following text is extremely corny. ***
*** Um aviso aos leitores... o texto abaixo está extremamente piegas.***

Here are some of the things that I miss...
Eis algums coisas que me dão saudades...

About me / Sobre mim

16) 4-month school vacation per year / Férias escolares de 04 meses por ano
17) Playing soccer in the street / Jogar bola na rua
18) Acknowledgement / Reconhecimento
19) Daily lunch at grandma's / Almoçar na casa da vó todo dia
20) When career was just a future chat / Carreira era apenas papo do futuro
21) 32-bit videogames / Videogames de 32-bit
22) Secret dating / Namorar escondido
23) Using a comb / Usar um pente
24) Real responsibility was to make your bed / Responsabilidade real era apenas arrumar a cama
25) Being able to dream / Ser capaz de sonhar
26) Two-digit weight / Pesar dois dígitos
27) Living alone / Morar sozinho
28) Basking in the sun, swimming in the pool / "Mofar" ao sol, nadar na piscina
29) Go out with a group of friends every weekend and sometimes during the week also / Sair com um grupo de amigos todo final de semana e às vezes durante a semana também
30) Flirting chills / Frio na barriga ao flertar

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About her / Sobre ela

1) Her arms around my neck / Os braços dela ao redor do meu pescoço
2) Her standing in the tip of her toes for a quick kiss / Quando ela fica na ponta dos pés para um beijo rápido
3) Late night phone calls for no specific reason / Ligações tarde da noite sem razão específica
4) Her voice soothing me like a lullaby / A voz dela que me acalma como uma cantiga de ninar
5) Holding hands / Dar as mãos
6) Walking together / Andar juntos
7) Her "I-miss-you-so-much" rib-breaking-hug / O abraço de saudade que de tão forte quase quebra as costelas
8) Stupid smiling / Riso bobo
9) Making plans together / Fazer planos juntos
10) Thinking about the name of our children / Pensar no nome dos nossos filhos
11) Share your day / Compartilhar o dia
12) Having her hair cover my face whenever we embrace / O cabelo dela cobrindo meu rosto quando nos abraçamos
13) When she laughs at my "so funny" jokes / Quando ela ri das minhas piadas "muito engraçadas"
14) Whenever we meet, her smiling face when she sees me / Quando vamos nos encontrar, aquele sorriso dela quando me vê
15) Her sleepy face when she is trying to stay up while watching a movie / A cara de sono quando ela tenta ficar acordada ao ver um filme.

Some of these things won't come back, so it's plain nostalgy. Some might come back, so it's called hope.
Algumas dessas coisas não vão voltar, então é apenas nostalgia. Algumas podem voltar, então é esperança.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Il barbiere

Um rapaz veio sem ânimo mas também sem resistência e se sentou na cadeira do barbeiro. Não olhou para o espelho para não ver o rosto daquele que viria - na verdade, não queria ver o rosto do que já havia chegado.O barbeiro colocou o avental em si e nele, amarrou na altura do pescoço, atou as mãos e os pés. Ele não conseguia nem ao menos se mover e quando olhou pra cima, ficou supreso mas não se espantou de ver que a face lhe era familiar. A mordaça foi o último detalhe.

O barbeiro não tinha olhos, mas o que mais o deixou assustado é que não tinha um sorriso, uma palavra em seus lábios que o deixassem mais confortável em sua prisão. Com a sua navalha e sem misericórdia, o barbeiro esculpia a face do rapaz, que não podia fazer nada a não ser esperar. E, vez ou outra, o rapaz torcia que em um golpe de errado (exato?), um corte certeiro fizesse tudo acabar.

O barbeiro só pára quando julgar ser a hora. Para o rapaz, ele nunca pára. Com sua navalha, ele vai esculpindo golpe a golpe até que sobre apenas os ossos. É apenas uma questão de tempo até que...
Tire os olhos e com eles a capacidade de olhar além.
Tire os ouvidos e com eles a capacidade de ouvir e aprender.
Tire os lábios e com eles a capacidade de se expressar, de reclamar.

Maniatado, na então eterna espera pelo fim.

O barbeiro se chama Vida. A navalha se chama Tempo.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Velho Oeste

Não tinha como sair daquela cidade sem o duelo final.
"O meu mundo é pequeno demais pra mais que nós dois." - disse o rapaz.

Perante ele, a única pessoa que o havia derrotado em uma vida de muitos duelos. A única pessoa que ele não podia vencer.

E como quem reconhece a derrota, resolveu dar os passos. 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10 - os dois não atiraram, mas só ele não virou.

E assim os passos seguiram. Em frente até não poder mais olhar pra trás.
Só os cabelos dela esvoaçavam.

Quando você vai, fico só. Fico só eu.
Quando você vai, nunca volta. Nunca volta só.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Jimmy Quest - Capítulo 02

-> Capítulo 01

O cachorro era um jack russel, igual àquele do filme. Disseram que seria o cachorro ideal para ele, não apenas pelas condições que vivia, mas também pela sua personalidade. Ele nunca acreditou muito nesse disse-me-disse de um que tem cara disso e outro que tem cara daquilo, mas resolveu apostar - independente da situação, ele sempre optava por dar um voto de confiança e talvez esse fosse um dos motivos de ter se isolado em sua fortaleza, apenas descendo às ruas e ao povo quando lhe aprazia. Ao menos era assim que era visto por alguns que o cercava. Quando deu conta de si, o atendente da petshop estava acenando, trazendo-o de volta à realidade. Gostou do bicho desde o primeiro instante, levou-o pra casa com toda a parafernalha necessária para se cuidar de um cachorro e já levou alguns brinquedinhos pra quando ele crescesse um pouco. Apenas alguns dias de vida, os olhos haviam acabado de se abrir. Deu o nome de Chuck e aos poucos o animal de estimação cresceu, tanto fisicamente quando no peito do seu até então isolado dono.

Depois de uns meses, ele percebeu porque disseram que o cachorro tinha a ver com a personalidade dele. O cachorro não latia quase nunca, até um pouco taciturno para um filhote. Gostava muito de brincar mas só quando estava perto de quem conhecia, quando não gostava de alguém não fazia questão nenhuma de disfarçar. Uma coisa era fato, se ele latia é porque ia morder - com ele não tinha meios-latidos. Comia de tudo e aos poucos foi conquistando seu espaço à mesa, tinha dia que até escolhia o prato. Quando fazia alguma coisa errada, já ia se escondendo, fazendo cara de coitado pra não apanhar (quase nunca adiantava, mas não custava tentar né?) e colocando o rabinho entre as pernas. O dono sabia que se tinha algum vaso quebrado, xixi no carpete ou marca de dentes no cadeira da cozinha era só olhar debaixo do sofá. Quando ia dormir, fazia questão de ir até a cama do dono dar um beijinho de boa noite. Nos dias de insônia, tinha um companheiro que tentava ficar acordado junto, mas acabava dormindo ao pé do sofá.

Ele, o dono, aprendeu aos poucos como era não apenas se preocupar e cuidar de à distância, sem se envolver. Ele viu como é compartilhar a vida com alguém, como é ser compreendido no silêncio e também entender pequenos gestos. Nada daquela filosofia clichê de "aprenda a ver o raio de sol atrás das nuvens cinzas" ou "elogie e aproveite as pequenas coisas" - diga-se de passagem ele sempre odiou essa ladainha toda. O fato aqui era real - no dia a dia, ficando nervoso com algumas atitudes, felizes com outras, grato por ter um companheiro para andar no parque ou assistir algum filme de madrugada. A vida real não dá margem pra romance cheio de firula, até o mais bem sucedido dos homens pode ser um miserável entre as quatro paredes do seu lar. E, graças ao seu novo amigo, ele estava aprendendo a deixar de se sentir assim. Sentimentos dessa estirpe não são extintos por terceiros, sejam humanos ou caninos.

E a primeira muralha começou a cair e aos poucos ele aprendeu a aceitar um convívio mais próximo com seus amigos humanos e até com outros conhecidos que outrora não tentaria nem fazer contato. Ele percebeu que nesse desespero de se proteger, ele acabou se trancando pra fora.

Se essa era a primeira, quantas mais teriam de cair para que aquilo que era tão hermeticamente guardado ser revelado?

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Usually they come in pairs

All good things must come to an end and bad things must come altogether in a stomping herd.

Crying might last for a night, but with morning come joy. In life, there are just as many nights as days. Come on, just read the lines in between.

It's a solar eclipse season and if it was possible, the sun would definitely be hiding before the moon and all the other planets.

Pictures usually make me sad. Some make me sadder.

Parties usually make me feel cumbersome. Actually it is just because somehow I feel bad 'cause I just can't celebrate at all.

It's like listen to the sound but cannot feel the rain.
Trapped inside with no shackles and locked doors. Prison and prisoner.

It's a slow fade. Standing or sinking?

Denervating

- So, it's been quite a while since I read something from you.
- You know, I used to write a lot because I did not have someone that I could talk to. Now that I have, there is no reason to write.

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Should it change, I could say otherwise.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

El camiño

Vez ou outra, a dualidade de ser humano irritava o jovem aspirante a adulto. Apesar de buscar aprender e crescer para se tornar alguém que valia a pena ser lembrado, via-se repudiando as consequências que a tal da sabedoria (conhecimento posto em prática, como ele mesmo definia) trazia. Cada passo para frente apenas indicava que ele estava mais longe ainda de onde deveria chegar - uma sensação horrível de andar pra trás, apesar de saber que ia adiante. Não teria como negar o avanço pois na caminhada, tanto o caminho como o modo de andar foram mudando e com isso muito se perdeu e muito se ganhou.

Outra questão que martelava a sua consciência não-tão-tranquila era o fato de perceber apenas agora que a jornada era pessoal. Antes, quando estava no início da caminhada, andava junto com tantos outros que chegava a dizer pra si mesmo que eram deles que ele tinha que ganhar, ser melhor, estar à frente. Mas com o passar dos passos, e os caminhos se polifurcando e cada um seguindo sua trilha, as companhias se tornaram mais escassas. A bem da verdade, parecia que a quantidade de companheiros de jornada era indiretamente proporcional ao número de bifurcações no caminho - aliás, esse foi outro ponto que ele percebeu. Lá no começo, o caminho se divide em inúmeros outros enquanto depois de outros passos, as divisões ficam quase sempre nas bifurcações (e a certeza de certo e errado se torna mais evidente em cada divisão).

Nunca foi adepto do maniqueísmo quando se tratava de natureza humana - lutar contra o "mal que há em si" é mais eficaz do que simplesmente negá-lo. Mesmo na luz, a gente continua projetando sombra neste mundo. E lá está a inevitável prova de que em nós as duas pontas coexistem. Nele, sempre em pé-de-guerra. Na caminhada os passos vão se tornando cada vez mais pesados e, assim as marcas das pegadas no solo deixam de ser algo a ser levado pelo vendo e se tornam até alvo de estudo dos antropologistas da vida (no sentido original, o que estudam o homem). Uma vez ouviu: "Ir onde nenhum homem jamais foi" - grosso modo, caso não paremos de caminhar, todos chegaremos a um lugar que nenhum outro homem já foi.
De repente essa é a diferença entre sucesso e fama - chegar onde ninguém foi mas apenas você quer ir é sucesso. Agora chegar onde ninguém foi e vários querem ir é fama - não que não seja sucesso também, mas a parte enaltecida é a fama. Na mídia quase nunca se vê história de pessoas de sucesso mas sim de pessoas de fama.

O problema dele era o foco. Assim como as discussões que começam com um assunto e logo discorrem pra outro, se não tomarmos cuidado podemos acabar andando fora do caminho. E, como sempre falou seu velho pai: "Se há algo que é pior que estar no caminho errado, é estar fora do caminho". Quando no caminho errado, de certo modo, ele sabia o caminho de volta para "fazer certo". E ele sabia também que todos já desceram uma ladeira errada ou fizeram conversões proibidas. A questão é que fora do caminho é terra de ninguém. E se é de ninguém, definitivamente não é sua. Ou minha. E era essa falta de foco que fazia com que ele trilhasse vez ou outra no ermo dos entrecaminhos. Uma trilha nunca será um caminho.

E toda essa volta cai em uma questão - a sua falta de foco o fazia batalhar com a dualidade. Falta de foco pois não sabia se queria ir pra esquerda ou para direita. Falta de foco pois não sabia se queria ir além ou aquém. Falta de foco pois não sabia se queria continuar e arriscar perder os seus comparsas ou se queria parar e arriscar ser perdido por eles. A dualidade implica que temos que sempre considerar as opções por duas perspectivas - a positiva e a negativa, por assim dizer. E por isso ele resolveu recapitular as suas acepções durante o caminho:

1) Grandes grupos -> Pequenos grupos -> Pares -> Um
2) Conhecimento -> Prática -> Sabedoria
3) Certo? Errado? -> Certo! Errado!
4) Um caminho -> Diversos caminhos -> Dois caminhos
5) Pegadas leves e deléveis -> Pegadas pesadas e marcantes
6) Passos largos -> Passos estreitos -> Andar "pra trás"
7) Sucesso coletivo -> Sucesso individual -> Fama

Cada item era um caminho a ser traçado - o fato é que em alguns deles iremos até o fim, em alguns até o meio e em outros nem colocaremos o pé.

Às vezes, somos sobrepujados pelas nossas personagens.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Too tired for fury

1.
Sometimes the glass is half-full (when in wednesday, you think there are only two days to saturday), sometimes is half-empty (when in wednesday, you think there are still two days to saturday) and sometimes the glass is broken and you just stepped on it (when in wednesday, you are upset because there are only 4 days to next monday). When you're not excited even on fridays, something has got to be wrong - glass broken, stepped on it and now I have to walk in salt and lemon to get back home. Superb.

2.
It surely feels like hell-on-earth lately. The temperature is around 30-35ºC everyday, and inside the mandatory corporate straitjacket, I bet it rises to around 45ºC. Sometimes the weather agrees with our life moment. No, it´s nothing like "rainy days and mondays always bring me down" - although I do agree with the "mondays" part. To be honest, it seems that my week is composed of 5 mondays and then the weekend. And the straitjackets are the walls of this place that can surely bring a grown man down. What to say about a growing one? I have the inbetween.

3.
And my arms are not turning into salt and giant ants are not eating the flesh out of my scalp. What also bothers me is that the faith index is just as stable as the stock market.

4.
We are changing our location here in the building - up we go, 5 floors above. While boxing all the documents and labeling stuff, I wished I could box me out of here. But then again, I must be able to think out of the box. And I am out of stamina and box-expressions. And it's quite "nice" when you don't know whether you have another day or not - I also hate the feeling of not knowing where (and when) to go, even if it is inside the building.

5.
I wonder why I don't fit in. Maybe it is because I don't dance according to the song. The legs sometimes get tired of walking my way on this weird path. I don't do like the romans in Rome. Not that I am trying to make a revolution or impose my way over others. I just don't care. I like swimming against the current not because I want to be different. It just happens when I disagree. Walking right even if the path is wrong.

6.
It's quite soothing the feeling. As each sentence is dropped by in here, it's like some weight is lifted and I can walk more freely. I even rehearse a smile.
Although I believe it is just because I am soon to leave the office and head home for a promising weekend, just let me think that the lines are responsible, sometimes it happens on mondays and the weekend is so far away.

7.
As God did, so shall I. In the seventh, we rest. It's my (our) day.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Vitrines, Pechinchas e Abacaxis – Um pouco sobre relacionamentos

Se você não vive em Cuba ou na Coréia do Norte, a visão capitalista faz parte da sua vida - independente do posicionamento individual em relação ao sistema financeiro. Os conceitos de custo de oportunidade, investimento, oferta x demanda, monopólio, dentre outros fazem parte do cotidiano da nossa sociedade orientada pelo consumo. O consumo é a base da sociedade capitalista e o seu crescimento decorre de inúmeros fatores - status, marketing, necessidade, etc.

Geralmente, em nossas compras diárias, buscamos no mínimo a sensação de termos pago o preço justo - seja em um tênis, numa refeição, em uma bugiganga qualquer. Há também as duas variáveis da "compra justa" - a pechincha e o abacaxi. A pechincha é quando a percepção de valor excede o preço pago, ou seja, quando pagamos "menos" do que o produto vale na nossa perspectiva. O abacaxi é a ponta oposta, quando se paga demais por algo que não vale tanto. A pechincha pode ser decorrente de uma oportunidade (como uma liquidação ou a visita fortuita em um site/local) ou do esmero da pessoa (o ato de pechinchar, "chorar" por um preço mais em conta). Igualmente o abacaxi pode ser decorrente de um engano (quando o produto frustra a nossa expectativa, pois no momento da compra parecia justo) ou simplesmente da necessidade (como comprar capa de chuva em estádio - você vai pagar mais do que aquele pedaço de plástico vale).

O motivo pra comentar sobre os nossos hábitos de consumo é que em sua mecânica, eles se assemelham muito ao modo como nos relacionamos com as pessoas - ao menos no momento em que as conhecemos. Nós olhamos a pessoa, analisamos as características, vemos o que deve ser investido para conhecê-la e decidimos se vale ou não a pena investir. Partindo desse conceito, cada amizade feita seria uma "compra" e cada consumidor tem um modo diferente de fazer compras, seja este definido pela personalidade da pessoa (fatores internos) ou pela condição externa, como sociedade, valores, condição financeira, etc.

Portanto, considera-se doravante que "compra" é o ato de fazer contato social. Apesar de ser complicado considerar que se "compra amigos" por trazer uma idéia negativa, precisamos nos desvencilhar do significado já solidificado e criar um novo conceito para a idéia de compra. Investimento é o recurso despendido para conquistar o relacionamento - seja o custo de deslocamento ou o tempo gasto (e as suas decorrências). O texto trata-se, portanto, de uma teorização do relacionamento humano por intermédio do uso de analogias combinado com um exercício de descontextualização de um conceito outrora inadaptável.


Compra Específica x Compra Espontânea

Um dos modos de identificar que tipo de comprador nós somos é pela classificação dos tipos de compra que temos. Em linhas gerais, pode-se dividir a compra em duas características: específica e espontânea. Cada qual com seu tipo específico de loja, posicionamento e mercado alvo. Uma questão, porém, que se repete nos dois estilos de compra é o fato de que quando se espera gastar uma grande quantidade de recursos ou se o produto a ser adquirido possui alto valor perceptível é que há uma interação antes da compra.

Explico: quando se compra algo importante, não simplesmente olhamos pela vitrine e já compramos sem ao menos ver - queremos perguntar os detalhes, saber como funciona, pegar na mão (mas se pegar na mão e quebrar, tem que levar). Se a compra é realmente importante, há investimento. Para todos os efeitos, em relação a relacionamentos, as compras sem interesse (viu e comprou) são desconsideradas. Afinal, não consideramos relacionamento quando não há interação. "Pegar" alguém na balada ou conversar com alguém na fila do banco, por exemplo, não é considerado uma "compra".

Mas voltando à característica que define a compra, em relação ao local e o posicionamento das lojas, há diferenciação. Enquanto o específico prefere lojas especializadas e posicionadas em locais mais reservados ou de acesso restrito, o espontâneo busca lojas de produtos gerais e de acesso mais fácil e rápido. Exemplificando, pode-se dizer que o específico é aquele que busca uma loja de charutos em algum reduto do centro da cidade e o espontâneo aquele que anda em complexos de lojas (como shopping centers) ou lojas de departamento. Outro ponto que pode ser levantado é que em relação às lojas virtuais, os espontâneos tendem a buscar os sites/ferramentas que possuem maior abrangência de contatos (flickr, orkut, msn) enquanto o específico busca sites menos conhecidos (blogues especializados em certo tema, fóruns de discussão com acesso restrito). Já nas lojas físicas (bares, baladas, clubes), os espontâneos tendem a não criar barreiras para eventuais compras e em alguns casos vão com esse propósito em mente, enquanto os específicos dificilmente vão com o intuito de comprar - a não ser que o produto já seja previamente conhecido.

Por fim, o comprador específico costuma ir sempre direto ao ponto e raramente se depara com alguma oportunidade ou surpresa para uma compra "fora dos planos". Quanto ao espontâneo, por dificilmente ir à busca de algo pré-definido, aumenta exponencialmente a sua gama de oportunidades e assim se expõe para mais surpresas e novas compras - obviamente que com essa postura, há também um maior risco. Em relação a isto, não há posicionamento correto - geralmente o contraste entre ir direto ao ponto ou "ir à passeio" existe em toda pessoa, o que define é o momento vivido e o estado de espírito.

Pechincha x Abacaxi

Como já dito no início do texto, a compra pode ser pechincha, abacaxi ou de preço justo - sobre relacionamentos, raramente existe coisa como "preço justo" em um compra. Ao fazer contato para dar início ao relacionamento, geralmente se resulta em abacaxi (quando se investe mais do que deveria) ou pechincha (quando se investe menos do que realmente vale). Preço justo geralmente ocorre quando compramos algo que já conhecemos (o que não se aplica a início de relacionamentos) ou quando não há interesse/expectativa na compra. Há também em cada uma das vertentes, dois tipos de subcategorias: a pechincha pode ser por oportunidade ou por esmero; já o abacaxi pode ser por engano ou por necessidade.

A pechincha oportunidade seria o melhor cenário - ocorre quando não se está procurando nada em específico e se consegue uma grande compra por estar no lugar certo, na hora certa. A pechincha esmero é aquela que ocorre depois de "chorar" o preço - no relacionamento, a pechincha por esmero pode ser nociva pois ela põe à frente o investimento ao invés do valor da pessoa, ou seja, o foco é egoísta. O abacaxi engano é aquele que surge das boas intenções - a pessoa acredita e decide investir em uma compra e o resultado é catastrófico. Já o abacaxi necessidade é aquele que resulta de uma atitude centrada em si, por uma necessidade própria (seja ter muitos amigos, auto-afirmação, massagem no ego, etc). Assim, dispõe-se a gastar conscientemente mais do que o valor percebido na mercadoria - este é o pior cenário e, geralmente, com as piores consequências (por exemplo: decepções com amigos falsos, rolos intermináveis, amores unilaterais e etc).

No início, somos capazes de classificar com precisão todo e qualquer relacionamento. Reitero que essa análise é feita no começo de qualquer interação visando relacionamento - no decorrer do tempo, boa parte dos relacionamentos tendem a cair no preço justo, afinal aprendemos a investir corretamente. Mas há sim, algumas raras pechinchas que se tornam abacaxis e, mais raros ainda, abacaxis que no longo prazo se tornam pechinchas.


Considerações Finais

Ao contrário de uma compra normal, há a necessidade de levarmos em conta que nesse cenário sempre atuamos os dois papéis - somos ao mesmo tempo comprador e mercadoria. Estamos falando de comprar uma participação na vida da pessoa e, ao mesmo tempo, vender a ela uma participação na sua vida. Por esse motivo, é recomendável saber o preço depois. Saber o preço antes faz com que se crie foco em quanto se gasta (investimento) ao invés de quanto se ganha (valor). E automaticamente cria-se o mesmo padrão na pessoa - ou ao menos abre precedente para que isso ocorra. Trocando em miúdos, uma pessoa cresce em valor quando se está disposto a "pagar mais do que ela custa. Por consequência, ela também se dispõe a investir mais.

E nessa vida em que passeamos do lado de fora e dentro das vitrines aqui e acolá, temos que saber escolher bem as nossas compras não só por aquilo a se investir, mas por aquilo a se oferecer. A (terrível) beleza deste mercado é que os dois lados escolhem, negociam, chegam a um veredicto. (Obviamente, há pessoas com mais "habilidade" que outras, seja para vender ou para comprar). Para bom comprador, não basta ter apenas uma boa vitrine - é preciso também ter qualidade, durabilidade e identificação. Mas vale lembrar que uma má vitrine pode fazê-lo desistir.

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Agradecimento especial ao ilustre Flávio Oota pela colaboração imensa para criação desse texto.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O espelho e a 1ª pessoa singular

Pre Scriptum

A jornada naquilo que se vê no espelho é um dos passos rumo ao autoconhecimento. Todos possuem seus conflitos e desconfianças em relação ao que é apresentado de modo tão claro e ao mesmo tempo tão enigmático. Em algumas palavras, tento mostrar o início da minha jornada e como descobri que mesmo no caminho torto, nós temos que andar certo.

01

"O espelho, no mundo dos signos, transforma-se no fantasma de si mesmo, caricatura, escárnio lembrança." Umberto Eco

O espelho sempre foi meu algoz. Desde sempre, nele eu via algo que não me parecia aceitável. Em momentos esporádicos, tão raros quanto passagens de cometas, eu via algo que me parecia agradável. O espelho é muito mais do que algo que mostra a sua imagem refletida - nele você se enxerga como é. Pelo menos como é pra si mesmo. A "automiopia" pode muito bem enaltecer os vícios e denegrir as virtudes - ou vice-versa. Eu não era alguém diferente - ora enaltecendo vícios, ora virtudes, ao me olhar no espelho, raramente via a mim mesmo. Via meus erros, via as falhas, via a insustentável pressão do tempo, via que não era o bastante - mas não sabia definir para que ou para quem.

Reza a lenda que quebrar um espelho custa 7 anos de azar. Fico pensando quantos anos de azar custa quando quebramos a nós mesmos. Antes, acreditava que o espelho que me quebrava toda vez que tentava o encarar. Depois, percebi que eu me quebrava para não ver o que o espelho tinha que mostrar. E nessa guerra sintática, sendo ora sujeito executando a mim mesmo ou objeto, mas mesmo assim me sujeitando aos impropérios desferidos pelo sujeito, até então oculto, contra o eu que era transformado em cacos. E assim, talvez por medo e covardia, talvez por simples autopreservação, eu me escondi atrás do meu reflexo.

02

"Nada menos de duas almas. Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro... A alma exterior pode ser um espírito, um fluído, um homem, muitos homens, um objeto, uma operação." Machado de Assis

O fato de se esconder quase sempre não é consciente - ao menos não no estágio em que o caráter ainda está em (de)formação. Quando conceitos são reiterados ou destruídos, posturas revistas e paradigmas quebrados. Nesta época, ficou muito difícil gostar de se ver. A bem da verdade, pode-se dizer que há duas fases - a primeira é aquela que perdura no início, quando saímos do casulo e queremos enfrentar o mundo. Nesta época, quando eu me via no espelho, eu me sentia um ser virtuoso, correto, acima do bem e do mal, intocável, incorruptível. E lá estava eu, quase gritando "para o alto e avante", até descobrir que no mundo real, as coisas são um pouco diferentes. Parece que quando nos viramos de costas é quando o espelho nos mostra o que realmente somos (ou como agimos).




Um extremo tende ao outro e, se um dia eu me vi como super-homem, o meu ego era feito de kryptonita. E assim começou a queda-livre, em todos os aspectos. Tinha meus 19 anos e enquanto o mundo crescia, eu comecei a ruir. E foi ai que começou a introspecção que perdurou até recentemente. Minha perspectiva viciada e viciosa fez com que cometesse erros crassos com muitos, mas principalmente comigo. A figura mudou completamente - no espelho, eu via um pateta enquanto alguns que me cercavam me viam como "pilar de fortaleza". A razão as vezes me dizia que eu não era nem um nem outro, mas o espelho me mostrava que eu era o pior dos humanos e isso erra corroborado em mim pela auto-intitulada (e raramente combatida) degradação da aparência. Vertigem. Do (meu) zênite ao (meu) nadir. A pior parte é aceitar a necessidade de se ver de novo – eu tinha vergonha, frustração, raiva do reflexo a ser visto no espelho. Aos meus olhos que há muito não buscavam meu reflexo, seria uma atividade hercúlea galgar os degraus de volta a ser alguém que valia a pena de ser visto. Mas aos poucos eu me levantei e das minhas entranhas tirei forças para perseguir aquilo que eu queria ser.

03

"Olhos bem abertos, quase dentro dos outros, dos iguais, do outro lado. Onde? Ele um dia perguntou-lhe: Que procuras? Apanhada de surpresa, afastou-se, compôs a figura e disse: Nada. Jura que ouviu a outra, também a afastar-se, dizer: Tudo." Licínia Quitério

Depois disso, por um bom tempo, quando me olhava no espelho, via-me de costas, como se sempre estivesse atrás daquilo que teria que ser. A imagem perdurava em minha mente pois independente do que fosse feito, eu sempre estaria um passo atrás daquilo que gostaria de ser. O mundo inteiro era refletido tal qual era e, de certo modo, eu também. Ali eu via a minha realidade, minha sina, meu destino, meu maior obstáculo. A minha razão gritava, ecoando em minha existência, que o que deveria buscar era ver de frente, face a face. Mas uma outra voz também falava, apenas audível para os ouvidos que descrêem, que eu não deveria ver o que eu havia me tornado. Que era vergonhoso, que traria sofrimento, decepção. Que eu me recusava a virar de frente, mesmo no reflexo, pois não queria que ser visto pelo que sou. Que queria esconder as marcas que foram deixadas. Marcas que apenas sentia, mas nunca fui capaz de mostrar, nem ao mesmo para mim mesmo.




Nesse diálogo entre o reflexo e eu, entre as razões conflitantes, apesar dos questionamentos, eu não queria achar uma resposta. Eu só queria mesmo parar de questionar. Parar de colocar em voga aquilo que ficou no passado, de destacar as dúvidas em detrimento às respostas que já tinha. Se as questões permanecem mesmo quando as respostas já são conhecidas, há alguma coisa errada. E percebi que na verdade o que estava acontecendo era que o que era visto não era o reflexo do que eu era de verdade e sim o reflexo de um reflexo. E por isso não havia saída, uma linha de questionamentos intermináveis. Assim como um espelho posto na frente de outro, um sempre vai tentar mostrar para o outro o seu lado, ad infinitum, sem achar consenso.

Reflexos não mudam, não aquiescem. Não há paz nem solução. Essa epifania levantou um questionamento que precisava ser resolvido - se o espelho mostra um reflexo de outro reflexo, onde estava o verdadeiro eu?

04

"Por acaso, surpreendo-me no espelho: Quem é esse que me olha e é tão mais velho que eu? (...) Nosso olhar duro interroga: 'O que fizeste de mim?'" Mário Quintana

Aprendi que o espelho não mente. Ele mostra exatamente aquilo que é apresentado à sua frente. Os olhos também não mentem - eles capturam a exata imagem daquilo que foi refletido. Nós mentimos. E de tanto mentir pra nós mesmo, pra mim mesmo, acabamos usando nossos reflexos criados como máscaras, como aquilo que apresentamos para ser refletido. Hoje não me vejo mais como super-herói ou pateta, não me vejo de costas nem de lado. Vejo-me de frente e vejo o que sou. Sem romance, sem ficção, sem idealismos, sem preconceitos. Hoje não vejo mais a "beleza" ou a "juventude" que lá estava alguns anos atrás, que via vez em quando em momentos de rara lucidez.

A priori, obviamente interrogamos, tentamos explicar ou justificar o porque de tantas mudanças - vida desregrada, falta de tempo, descuidos mil. Como se o reflexo real perguntasse para mim o que eu tinha feito para deixar chegar a este ponto. Contudo, vi também maturidade que antes não havia, sinceridade e profundidade que havia apenas nos conceitos ou até nos livros que eu sempre li. Nesse quesito, Lavoisier acerta em cheio - nada se perde, tudo se transforma. Talvez o que o externo tenha "perdido", o interior acabou "ganhando". No fim do dia, no fim da vida, eu sou eu.

Percebi que não há mal em desgostar um pouco do que se vê, contanto que isso não te faça desgostar do que se é. E, por mais clichê que possa parecer, gostar do que se é é a base para se mudar o que se está. Antissociais (respeitando a nova ortografia) podem começar a fazer amigos, misantropos a gostarem de gente, gordinhos podem emagrecer, nervosos podem se tornar mais calmos. E tudo isso começa com ver a si mesmo, a mim mesmo no espelho.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

05 short dialogues

No cabeleireiro:

Menina: E qual sua data de nascimento?
Eu: xx/xx de 1985.
Menina: Nossa!
Eu: O que foi?
Menina: É que eu sou de 1984 e você é mais alto que eu.
Eu: Realmente, estranho mesmo. Meu avô, por exemplo, é de 1926 e tem quase 4 metros de altura.
Mãe: Menino!

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Na faculdade:


Professor: E aí, você nasceu em qual estado?
Eu: Sólido.

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In an english class:


Teacher: There was a photo session of some animals in a farm. They had a problem because after a while, some animals starting to suffer because of the heat. Specially the chicks that were getting hot.
Me: *Smirk* The chicks were getting hot. He. He. *Smirk*
Teacher: Down, teenager!

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Na outra empresa:


Colega:E criança tem um jeito interessante de pensar. Outro dia perguntei pra minha sobrinha de 2 anos se ela gostava de mim. Ela disse que "gostava de mim dois".
Eu: Dois?
Colega: Isso. Dois.
Eu: Por que?
Colega: Ela disse que um significava que gostava muito de mim. Porque um dia ela foi pegar doce e o pai dela disse pra pegar só um, porque dois era muito.

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Ainda na outra empresa:


No email:
Colega: (...) e pra terminar o sábado, tomei uma serveja.
Ao telefone:
Eu: Caramba que estrago no fim de semana, hein? Aliás, cerveja é com c, cara.
Colega: Pode crer, cerveja é comigo mesmo.
Eu: ...

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Par le matin que je voudrais oublier

Angry Doug Funny - on

Só em setembro já se foram retrovisor, vidro, mochila, DS, livros, documentos.
E com eles quase todo o salário, dor de cabeça e muito tempo perdido.

Cansei de viver nessa cidade, nesse país.
Nessa merda de situação em que temos que viver com medo de sair de casa, de andar na rua, de usar algo mais bonito porque chama atenção. De lutar pra conquistar suas coisas e não poder usufruir ao máximo porque um bando de malditos ficam à espreita, sendo "espertões" e tentando roubar tudo.

Cansei de ficar perto de um bando de gente que quer ser mais malandro que o outro, tirar vantagem, sair por cima em todas as situações. De ter que desconfiar sempre, de ser taxado de vacilão ou idiota quando deixamos mochilas/carteira/qualquer coisa à mostra e ainda por cima dizer que o erro é nosso quando acontece alguma coisa e não de quem está obviamente cometendo o verdadeiro erro - roubando.

Cansei desse bando de pé-rapados que ficam culpando a sociedade por não ter nada e assim tentam justificar o fato de roubar. Esse bando de vagabundo que são simplesmente folgados, não querem ralar nem procurar trabalho e entram nessa vida de roubo - roubando gente que trabalha, pais de família, senhoras de idade - para comprar roupa de grife, drogas e não comida ou algo pra sobreviver, estes eu não consigo tolerar. Além de ladrão, é covarde.
(Veja bem, não tenho nada contra quem é pobre, afinal, apesar de hoje (graças a Deus) ter um trabalho e uma condição de classe média, eu cresci pobre e até minha adolescência foi nessa realidade que eu vivi. Vi muitos colegas da rua, do futebol no campo de barro e dos contras com a rua de cima virarem bandidos, serem mortos, presos, terem que fugir da polícia ou para não serem mortos por traficantes. Mas também vi muitos que lutaram, conquistaram seu espaço e hoje tem casa, um trabalho, constituiram família e batalham pelo seu futuro. Portanto, não justifica.)

Cansei de ter que viver sua vida atrás de grades, muros, cadeados e correntes. De ver a qualidade de vida ir pelo ralo, de ficar doente, careca, fora de forma, estressado, com insônia por ter que viver sem vida. De trabalhar o mês inteiro para pagar imposto e não receber nada em troca e, além disso, ter a chance de ser roubado a qualquer momento (talvez deveria dizer ser roubado 2 vezes, mas enfim).

E porque ter que fugir de assalto às 8h da manhã não deveria ser a realidade de ninguém, quero uma casa sem muro, sem cerca. Deixar meu carro aberto, jogar DS no trem. Não ter que ficar em constante alerta pra não ser sacaneado no taxi, nas lojas, não ser roubado nas ruas, nos faróis. Quero viver em um lugar em que as pessoas se respeitem, se cumprimentem, se conheçam. Em um lugar em que falar com mulheres não signifique que quero tirar a roupa delas, que brincar com crianças na rua não signifique que você é pedófilo, que ser evangélico não signifique ser fanático ou aproveitador, que político e corrupto não sejam sinônimos, que um tênis ou uma roupa valha mais do que uma vida.
Um lugar em que ideal não seja sinônimo de utópico.

Às vezes, acho que nasci na época errada, no lugar errado. Às vezes tenho certeza.
E é apenas terça-feira. Que Deus me ajude (e me perdoe).

Angry Doug Funny - off

sábado, 20 de setembro de 2008

Pequeno Elefante

Após assistir o filme "Horton e o Mundo dos Quem"...

O filme conta a história de um elefante que ouve em um grão de poeira uma voz que pede ajuda e, eventualmente, começa a conversar com um dos moradores de dentro do grão - este que mora em uma cidade de pequenos seres chamados Quem. O pequeno consegue ver a ação do grande no seu mundo. O grande, por outro lado, reconhece a responsabilidade de cuidar do pequeno e de tudo aquilo que lhe é importante. Em nenhum momento eles se vêem - e apenas um é capaz de ouvir o outro. Talvez pudessem optar por ignorar, mas resolveram acreditar um no outro.

E basta crer em algo "inexplicável" que é o bastante para tornar o amigo em inimigo, o herói em vilão, um elefante amigável em perverso deturpador. Que culpa ele tinha se onde ele vivia, apenas ele era capaz de ouvir? Do mesmo modo o pequeno Quem, que ouvindo a voz que vinha do alto, não recebeu apoio nem de sua família? Mesmo sendo o prefeito da cidade, foi ridicularizado e tido como louco. E tudo isso porque ele resolveu acreditar. Resolveu aceitar que era menor do que gostaria de ser.

Acreditar em algo que não se vê e tentar, quase que sempre em vão, fazer com que outros acreditem. E, se mantermos os olhos e ouvidos abertos como as crianças, colocaremos de lado tudo aquilo que guia (ou compromete) o nosso julgamento e, por fim, também ouviremos - mesmo no meio da bagunça, mesmo no meio da selva.

Porque o caminho acaba sendo o contrário. O grande se revela para o pequeno, mas são os pequenos, que ao erguerem as suas vozes e usarem tudo que há em si para chamar a atenção do grande, conseguem fazer com que aquilo que o grande diz passe de loucura à verdade. O grande quer proteger o pequeno - porque nas mãos dele está tudo. E, ao contrário do que todos possam pensar, o grande só quer conversar, conhecer e estar próximo dos pequenos.

Por fim, o grande contou com o pequeno para que passasse para frente aquilo que ele aprendeu ouvindo o grande.

E logo, todos ouvirão aquilo que eu já ouço - e mesmo que não compartilhem da minha missão, não poderão negar que é real. Ora somos Quem, ora somos elefante.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Weekend and so

Doug Funny mode: on

13

Waking up is never an easy task on a saturday morning - specially after a disappointing friday-night-cinema with the latest (and also second-worst) Nicholas Cage movie - Something in Bangkok. I went to class after missing two weeks (first due to tiredness and second due to theft) and realized that I missed not as much as I thought. At least something to soothe the belatedness idea that somehow keeps haunting my life. Later on I went to Boituva for a friend's birthday party with a couple of friend of my own - no, they are not a couple with each other (thank God). So we went, three boys and nothing but a road ahead - this scene was rather nostalgic since it also happened five years ago in, what I deem as one of the best trips I ever had until now. Despite the repeated group, I must say that it felt completely different, after all so much has changed since then, so much has happened. And I was specially happy to see that we get along just as well, or dare I say, even better. In the party I met with some other friends and we spent all the time eating, chatting and laughing our heads off - as one of them said, nothing is more effective against stress than laughing. Back to the big city, there was time for a quick coffee with sight-seeing and meeting this already-accompanied-but-totally-would-you-please-marry-me-now gal in the subway. We were making plans to eat a pizza but we were also way too tired for all that. So instead of dinner, I preferred a ride home. And so, I slept within 1 minute and 13 seconds after I entered my room.

14

After a long-enough night of heavy sleep, woke up early and decided to do nothing for the rest of the day. It was almost 9 o'clock and I started to watch some downloaded tv series (mainly "japanese dramas") and by 11 I thought it would be a nice idea to go to my old man's house to watch the game and also spend some time on the road, enjoying loneliness and taking sometime to think with a better view other than my room's wall. It was cold, but somewhere inbetween it became sunny, the sky was fantastically blue and no clouds to get in the way ('oh how I wish I could fly', said the boy). No traffic, intense wind, open road - despite the abusive toll fees, nothing like spending some "speedy" time behind the wheels to leave small thoughts behind. Second day in-a-row that I was hitting the road - what might seem a busy weekend for anyone was a signal of "awareness need" for my paranoid mind. Nevertheless, just kept going also leaving the red light and buzz aside. Spent some quality time together, talked as much as we could and went out for dinner. Silence mixed with darkness filled the car in the way back - the wisest idea was to keep quiet as well. Arrived home at 10-something and kept the internet chit-chat going until 1 AM. Mind at ease, all recovered. Even so, insomnia. Whenever a week ends, the inevitable wondering comes knocking on my head's door. Right path or am I only getting my legs tired?

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Quite a dull nothing-running-out-of-the-mill gray-skied day with a crappy traffic after a crappy sleep. Things went smooth during the morning, after all there was no way that my head would race in a monday morning. I am too "garfieldish" for that. So we had lunch in a cheap-sort-of-creepy-spot and my colleague had to drop by a drugstore. My mind was elsewhere, thinking of my bed, thinking of vacations, thinking on nothing at all and then she showed up. 1.65m, long beautiful dark hair, dark eyes, dark blouse under an also dark tailleur, broad smile and annoying voice - a typical something-japanese mestiza. Reality downed on me and, before I got control of my senses, there I was, staring at her profile - and my mind was not as blank at it should be, probably. She was nearly a good-looking woman - at least for another regular male. Old habits die hard. Sometimes they don't die at all.

Doug Funny mode: off

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Relexa Disfeição

Eu tinha que carcomer alguma coifa.
Andando pela grua, vi um estabulocimento daqueles nãoples.
Tinha até com papão com maisteiga ou com geléia de jabuti - e isso era pó o cacomeço.
Enmarão de casopado, guisarica de jaguatido e lanhesa a bolosanha.
Carcomi de tudo e fiquei cheiro - a comuda não tava balboa e repassei mal porco mais darte.
Antes de ir embaro, pedi a sobretable.
Mussum de cocolate e gelatrina de mofrango.
Aquela gelatrina estava uma merda mesmo.
Temoi o cocafé, capaguei o que devia e fu-mei dali.
D. Pois, esqui sim me de tudo isso.
Como diria meu avôlho vê: Se a vida te dá gnus, faça lemanada.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Haikai (Haiku)

Dólar ou reais
Dinheiro para comprar
Poesia vã

Coração partiu
Um dia que fui feliz
Um dia que foi

Sorrisos doces
E lágrimas inócuas
Fluem sem parar

É poesia
Ou talvez seja prosa
Apenas preso

Verso inverso
Para mim, paradoxo
Quanto menos, mais.

(Três versos, 5-7-5 sílabas)

domingo, 31 de agosto de 2008

Kanpeki

"I want a woman who can sit me down, shut me up, tell me ten things I don't already know, and make me laugh. I don't care what you look like, just turn me on. And if you can do that, I will follow you on bloody stumps through the snow. I will nibble your mukluks with my own teeth. I will do your windows. I will care about your feelings. Just have something in there (inside the head)."
Henry Rollins

Well, before he would end up busting his head off time and again to try uncover some weird way to find someone. All the romantic crap and eternal perfect movie-like meeting and details and all the scenes imagined. Creating patterns and projects, stupid ideas, just a way to cope with the day, and run away from reality.
He gave up a lot of things during his short time either strolling or marching into this world. He learned the hard way how "losing" is difficult, heavy, oppressive. 'Maybe losing your dream is the last step before losing your hope', he thought.
It would be nice to find someone like Mr. Rollins said (keeping the bloody-boot-biting sort-of-kinky fantasy). All he wants, actually, is someone that is able to help him dream again. And, yes, that is too much too ask - specially when you were playing the role of dream-burier, uncommitted and disrespectful villain.
He might be seeking dreams, because in some place in his head, that is where he will find forgiveness.
And that, ladies and gentlemen, is what kanpeki is all about. Perfect. Not free of defects. Free of self-loathing, self-pity and self-destruction tendencies. Free of himself.

You are only able to find love when you are ready to accept it.

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You give me the idea, I quote you in my post. Quid pro quo. Although you'll never read this text, we're even - probably owed you two.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Avec 2 lits, s'il vous plaît.

He kept standing up from his bed, although he had no intention whatsoever in doing it. His room was his fortress, his cage, his prison, his refuge. This bittersweet feeling was just enhancing the lack of balance that hanged over this tenuous line that separated his so-called freedom from his self-imposed handcuffs. There were no chains, however he could feel that his steps' elapsed distance was limited.
The door is the hardest part to get through - it feels like moving a whole planet, just to realize that it is even harder to move yourself out of this place. There is no fear - only reality striking hard on a guy that is just waking up. The burden is not, but it surely feels like way over he can bear. And he barely does. Out of the room, he is still engulfed within the house - but rules have already changed. Away from that door, he is exactly what he thinks he is - life passes and you get to be right much more often that before. Much more often than you wish, some times.
His words, just as his steps, come at a slow place, as if studying where and if it should carry on this hurtful message. He is not sad, he is not lost, but he is not content and don't know where to go. The years were hard on him and spared no mercy. Eyes swerve away. Heads still held high. Not looked down on, not looked up to. Just like that, a face to be forgotten amidst the crowd. Not a hero, not a villain. Believing in God, in good. Leaving important things behind that door, the only place he can be himself.
He had his chances, he had no regrets. Past is past and there is no closet in his room to keep skeletons.
It takes just a little faith, the Big Guy said. Just a little faith.

terça-feira, 22 de julho de 2008

I dream of blue

- Pai, como eu diferencio sonho e ilusão?

Tanto o sonho como a ilusão são gerados no limite da realidade - o que os difere são as origens e os propósitos.

1) Ilusão é algo irreal, sonho é algo surreal.
2) A ilusão surge da necessidade de enganar. O sonho, da necessidade de crescer.
3) A ilusão existe para privar alguém da realidade. O sonho, para alterar a realidade.
4) A ilusão está vinculada ao passado. O sonho, cria laços com o futuro.
5) A ilusão desune o pouco que se juntou. O sonho, encaixa as peças do quebra-cabeça.
6) A ilusão é pária. O sonho é companhia.

Visões romanceadas à parte, um pária nunca será feliz. Quem sonha, ao menos, tem chance.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Do the evolution

Tenho amigos que escrevem como sóis-de-praias, talvez por isso que preferi usar a língua inglesa (e seus anglicismos). Não será diferencial por muito tempo (e nunca foi em certos patamares), talvez por isso venha também a língua japonesa, a língua espanhola. Finalmente, a língua do P, cuja fluência torna-se aos poucos precária com o desuso, ainda me é um trunfo a ser explorado (ou, quiçá, esquecido).

Essa perspectiva lamarckiana de desuso->extinção não foi muito correta do ponto de vista evolucionário, mas se pensarmos no conhecimento, isso acaba sendo verdade. Acontece com idiomas, acontece com contos e cultura populares, acontece com linhas de pensamento, acontece com teorias astrofísicas, acontece com modos de gerenciamento, acontece com amizades. Tudo que cai em desuso acaba sendo cadencialmente extinto. Em alguns casos, demora algumas gerações. Em outros, apenas alguns meses.

Um idioma pode morrer após dezenas ou centenas de anos do seu desuso - alguns viram apenas uma relíquia histórica, ou algo a ser admirado/estudado, como o latim. Um relacionamento geralmente dura menos que isso para ser extinto.

Seja no âmbito cultural ou social, toda extinção parte de um ponto de "quebra". Seja o domínio de um povo, a queda de um império, a traição de um amigo, a frieza de um namorado. Nesse ponto, o que até então era de fato um esforço fidedigno de manter algo vivo e a ser postergado, passa apenas a uma falsa ação para esperar o fim. Mantém-se vivo para dizer que tentou, para depois poder dizer "infelizmente".
Os romanos disseram "infelizmente" a sabedoria grega aos poucos se perdeu. Os portugueses disseram "infelizmente" a cultura indígena foi quase extinta. Nossa relação "infelizmente" se esfriou e por isso acabamos.

Não posso ser radical e dizer que isso se aplica a todos os casos de extinção. Quando o ponto de quebra provoca mudanças muito radicais, a extinção não é decorrente do "efeito Lamarck". Mudanças climáticas, mortes de pessoas importantes, acidentes de trânsito - guardadas as devidas proporções, tudo isso pode gerar uma extinção imediata.

Como o tópico explorado na dissertação é a evolução, não poderia deixar de mencionar Darwin - não quero entrar na teoria evolucionista, mas apenas em uma máxima de todo pensamento: Sobrevivência do mais apto (ou do mais adaptado). Em suma, apenas aqueles que se adaptam são capazes de sobreviver - na natureza, o pêndulo dança entre vida e morte. Na sociedade, o pêndulo pode ficar entre o emprego e o desemprego, o sucesso e o fracasso, o destaque e o anonimato. A chave do pensamento não é ter capacidades mais desenvolvidas ou habilidades mais extrínsecas - trata-se da única (e variável) capacidade de nos adaptarmos.

Adaptar-se, em primeira instância, é aplicável ao seu "estado" e não ao caráter/personalidade. O seu "estado" é mutável de acordo com o ambiente. No trabalho, você pode ser sisudo e nas reuniões familiares, o piadista. Nas reuniões, usando terno. No fim de semana, bermuda. Em alguns casos, a adaptação influencia a sua essência. Mas será que é realmente adaptável ou apenas uma faceta da sua personalidade até então oculta é descoberta? Por sermos seres com diversas esferas de influência, não temos como assegurar que alguém passou a ser agressivo - apenas que ela passou a usar roupa social. O estado quando adaptado é comprovado, a mudança de essência é improvável.

Outro ponto importante a ser frisado é que, mais uma vez devido à miríade de esferas de ação de cada ser humano, há a possibilidade de uma pessoa ser "extinta" em um aspecto e ser "evoluída" em outros - no mercado de trabalho vemos muito isso, e geralmente a extinção sobrepuja a evolução.

Na vida, ficar parado não é uma opção. Só se evita de voltar, indo em frente. Só se evita a extinção, evoluindo.

Trocando em miúdos, ao meu ver, a base para sermos seres humanos em crescimento integral pode ser colocada em duas bases - uma lamarckiana e uma darwiniana:
- Uso das virtudes e desuso dos vícios
- Adaptar-se sempre

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Poslúdio

O texto que era pra ser apenas sobre evolução de conhecimento foi quase extinto. Portanto, evoluiu para uma maior gama de ação - relacionamentos, impérios, etc.
E não consegui falar das padarias que são bancas de jornal, das bancas de jornal que são restaurantes e das outras "evoluções" que vemos por ai.
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quarta-feira, 2 de julho de 2008

Addicted

Ele já havia passado do longo estado de negação - cada dia uma ferida em seu orgulho que ficou em frangalhos. Passou boa parte do tempo isolado, sentindo raiva do mundo, mas principalmente de si mesmo. Negociava com Deus, com o mundo, com os números, com os fatos. Andava nos limiares da depressão, resgatado sempre por um triz, mas deixando algo do lado de lá do muro.
Havia aprendido a aceitar, e com a aceitação veio a inerente necessidade de mudança. Ele estava cansado dos constantes esforços para mostrar ao mundo e, principalmente para ele mesmo, que era de fato alguém disposto a melhorar. "As vississitudes do renascimento", dizia ele. Paralelo a isso, residia também o empenho em não voltar ao poço de onde havia sido retirado - toda aquela sujeira demorou a ser lavada e, até hoje, muitos ainda o viam apenas como aquele que tinha caído.

O vício acaba com uma pessoa, gera dependência, confusão, inversão de valores, auto-destruição, negação de si mesmo. O vício domina, toma conta e as vezes até toma o lugar da pessoa, que se diminui, se reduz a nada comparado ao que se fora. Ao se depararem com a realidade, boa parte se entrega à auto-comiseração, auto-flagelação, depressão, baixa auto-estima, ódio-próprio. O vício é algo que destrói com maior intensidade o ego do que o corpo. Para os poucos que conseguem se livrar, uma parcela ainda mais reduzida consegue viver como mais do que uma casca reciclada cujo interior não foi restaurado.

Quando ainda pouco impressionava com suas quase-intactas habilidades de diálogo, para ele parecia apenas uma verborragia mentecapta, limitada ao pouco de sanidade que lhe restou. Ele sabia que a responsabilidade era dele, por se achar forte demais, imune demais.
Essas lembranças sempre traziam à tona o pior dele (ou nele) e acentuava os conflitos entre o seu enraigado presente e o alado futuro. O seu eu destruído e aquele que desejava renascer. Para um viciado, a luz no fim do túnel não quer recebê-lo - é uma luta contra a luz e a escuridão, um pária na batalha maniqueista. O desejo de vencer é mitigado pela pressão da derrota iminente e das marcas das derrotas anteriores. Antes mesmo que um passo seja dado, uma luta devastadora ocorre sem testemunhas e sem vencedores.

- Por que lutar por autopreservação quando falta amor-próprio?
- Porque talvez se você conseguir a autopreservação, ela puxa o amor-próprio. Algumas vezes, a solução está no caminho oposto.


A luta não é contra o vício, mas contra si mesmo. O vício corrompe, mas quem se destrói é o homem. Por isso sabemos quando devemos lutar, quando devemos esperar e quando devemos fugir. A sobrevivência não dá margem para a vergonha.
Deve-se entender que não se ruma à melhora, é apenas a jornada de volta. Só chega-se à luz quando se percebe o fato de que lá é seu lugar. Para quem sai do vício, o caminho é o oposto.


Quando de ponta-cabeça, nossos pés tocam o chão.

terça-feira, 1 de julho de 2008

The four first last

Arde o sol
e muda o ar
Ar de muda
Mar de dúvida
Fim da tarde

Arma o dia
e ama a noite
Armadilha
Mar marasmo que
Não se alarma

Leva a vida
A vi na viela
Amarela, elevada
E levada, quer, liga
Quer não - releva

segunda-feira, 16 de junho de 2008

What could (not) be a rock song

Smite with all your might
Stage fright
Fight with all your sight
Tunnel light

It is usually just a word
play with rhymes and harmony
It is usually just another day
dream with a life under the sun

Bright eyes dyed white
Silver knight
Tight knots surround the site
Spot right

It is usually just a hand
made trap and set free
It usually takes some time
table with whom to drink

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Caffeine Intermission

Lack of sleep, a little flu. He locked the computer and went to the cafeteria to drink something and take a break. While drinking, he and all the others around kept staring outside the window as if desiring to be outside.

He had decided to stop daydreaming about a life basking in the sun while listening the wind blow randomly. But every now and then, inbetween working hours, he kept the dream alive. He was the only one that could do it. He was not sure if he should, though. He never had good experiences with dreams - for a long time, he even thought that he´d lost them all.

From this side of the window, all he could see was soundless movements, the cars coming and going, people walking up and down. A little above ground level, amidst of all the buildings, he could see some trees, a shy shed of sunlight trying to trespass, as if it was somehow criminous, the solid concrete barrier. That feeling of unawareness that surrounded the environment always made him at ease, he felt somewhat safe. A not-so-slim glass kept him away from that not-so-distant world.

"Life at work is not supposed to be fun", he was told so many times while growing up that, at first, he wanted to pursue a dream carreer to avoid suffering in the fangs of Lady Work. When it not worked out, he tried to fool himself by repeating, as a mantra, the same sentence he growed up listening. Failure can trigger undesired and uncontrollable reactions. And, little by little, he was the one that was writing his own sentence of suffering. With his bare hands. Each page, each chapter, the anti-hero seemed to be dragged to a whirlpool of nothingness, an emotional black hole, a hopeless path.

Not only at working hours he maintained this slow pace, carving his fate. As the years mounted, he also became a pit of frustration in several ways. All of them, one might say. After some years of blind descending, he went from a sharp sense of reality to a self-comiseration mode, well-disguised by a distinct speech of patience and (self-)sacrifice. Living on the edge, on the brink of a new step, all he needed was a little push to get out of the mud. Although hands reached down, he felt he was way too dirty to deserve such help and kept dodging, dreaming of a perfect life in which he had never got to that point. Deep down, he just expected someone to reach down and pull him up and some One did.

It took a little time to stand up right, get cleansed, and so on, but he managed to start anew. His life was at the reach of his hands - it is not useful to live thinking of tomorrow and neglecting today. That was his crucial mistake before and he paid a high price for it all. A price he can´t afford to pay again. And although the life in the external venue, basking in the sun and listening to the wind seemed better, he knew that if he ever wanted to get there, he had to work with what he had in hands. And, for what is worthy, he knew that if he could do it, anyone could.

To remain standing up, he had to believe his legs were strong enough. To look forward, he had to live without trying to change the past. To be able to dream again, he had to start living.

He decided to stop daydreaming. The coffee break is over. Life continues.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Métrica

A métrica é companheira, auxilia com mão destra as palavras canhotas. Dá-lhas uma linha a seguir, as guia para suas rimas sem tirar seus espaços e determinam seus pontos, até os finais.

A métrica é mãe, gerou em seu ventre os sonetos e versos hercúleos, heróicos, hediondos e hereges. Sempre respeitando a forma, sempre inspirando as palavras a deixarem a ordem amorfa que possuem quando sós.

A métrica é rigorosa, com mão de ferro separa e nega com veemência a presença dos termos que, inocentes, tentam se encaixar comodamente nas frases da vida. A sua balança pende e seus olhos não estão vendados.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Remembrance

Eu esqueci que era outono, mas quando fui almoçar hoje vi uma cena que parecia de filme. Estava embaixo de uma árvore e vi as folhas caindo, meio que em câmera lenta na rua. Mais cinematográfico ainda foi porque nenhuma caiu em mim, o sol batia de leve na rua e nenhum carro passou naquele momento. Seria digno de um Oscar se o vento tivesse agitado o meu cabelo.

Quando vi, lembrei da estação.

Eu esqueci como era sentir esperança, mas quando acordei hoje senti o coração bater. Senti de novo aquela certeza do que ainda não é (e talvez nem será). E nesse retumbar momentâneo, muito veio à tona.

Quando bateu, lembrei da sensação.

No farfalhar das folhas, no chilrear dos pássaros, no chapinhar das crianças. A sensação nostálgica daquilo que um dia se foi, os pequenos lampejos de esperança. Quando uma mensagem no celular faz o dia parecer melhor. Quando uma pequena oração, faz a vida ter sentido novamente.

Diga (a)o fraco, eu sou forte.
Tudo que se perde, se pode achar. Tudo que se esquece, se pode lembrar.

domingo, 25 de maio de 2008

Velho Mundo

Velho mundo
Que se diz novo ante ao mar
Que faz fogo ante ao frio
Que da paz se torna o maior ardil
Que faz a roda que começa a girar

Velho imundo
Mal quisto, mal visto
Que se diz esquecido
Que apesar da imundícia
Ainda revela um sorriso gentil

Velho mudo
Que preferiu se calar
Antes mesmo de proferir som algum
O silêncio funesto o envolveu e
sorumbático, tornou-se
Velho morto