domingo, 25 de julho de 2010

Mudar o rumo

Eu mudei. 

Desinencialmente, pode-se ocultar o sujeito, todavia opta-se por expô-lo, dada as circunstâncias envolvidas na declaração. Mudar é o objetivo dos que reconhecem em si a necessidade de ser diferente do que se é. Há um ditado que enuncia - querer é poder. Nesse cenário, apesar de ser correto essencialmente, a efetividade perde-se na realidade. Isso porque, geralmente, o 'eu quero mudar' denota não apenas o desejo de ser diferente mas, também a incapacidade de atingir o objetivo, seja por não saber a maneira para tal ou por não ter força para isso. Toda vez que um "eu quero mudar" é dito, a esperança surge permeada com desconfiança. Os 'SERÁs' e os 'E SEs" brotam de todo lugar, principalmente na cabeça do que declarou.

As afirmações repetitivas e cheias de dúvidas do desejo de mudança cria uma incredibilidade inabalável e, mesmo aqueles que gostam e, na medida do possível acreditam em você, desconsideram com convicção o que parece ser apenas mais uma declaração vazia de alguém que não irá mudar. Deixando o que é óbvio de lado, voltemos ao 'mudar'. Acredito que toda mudança ocorre, ou ao menos começa de fato, em silêncio. Por esse motivo, para os que querem de fato mudar, creio que o processo deve começar sem que haja declarações. No silêncio, para que não haja a criação de novas (mesmo que as mesmas) expectativas ou para que o escárnio alheio não impeça que o êxito seja atingido.  

Mesmo ficando sozinho por tanto tempo, me parece que não aprendi a entender o real valor do silêncio. Mesmo falando menos, ainda ando falando demais. Ainda expressando idéias que contradizem o que realmente acredito, levado pelo momento, destaque ou receio. Mudar assusta pois exige que se abra mão de certas coisas e, quanto mais profunda a mudança, o que é exigido se torna mais precioso. Mas, talvez seja justamente por isso que haja a necessidade de mudar. Em Provérbios está escrito que onde está o nosso coração, lá está o nosso tesouro. O coração é único, mas o tesouro pode ser substituído. 

Chega uma hora que mudar, assim como navegar, é preciso. 
Só se ouve quando não se fala.
Falar só quando a ação se concretizou.

Eu mudei. 
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terça-feira, 20 de julho de 2010

Um pouco mais de vida

Um dia, há um tempo, decidi estudar japonês sozinho. Na época, o mundo era pequeno e tudo era tão simples e fácil de se obter. Mas aí veio o mundo, vieram as preocupações e responsabilidades auto-impostas, os sonhos deram lugar à praticidade e o tempo foi consumindo tudo sem me dar tempo nem de repensar. Mas isso é parte de uma rede de justificativas vazias e que geram um pseudo-conforto que logo passa. Abrimos mão de certas coisas em detrimento de outras, mas alguns planos são abandonados sem justificativa alguma. Desânimo? Cansaço? Prioridades?

O porque de não ter perdido os quilos a mais, o porque de não ter começado a estudar chinês ou já saber falar francês, o porque de não ter viajado mais ou conhecido mais? Falta de disciplina e comprometimento. Isso eu tinha de sobra quando resolvi aprender um idioma sozinho - o tempo me era mais vasto então, e eu o usava com afinco, sem desperdício. 

Por um pouco mais de vida, por um pouco mais de sonho, retomei a disciplina e me comprometi a mim mesmo. É o único investimento que só me fará ganhar e, pra falar a verdade, o único investimento que posso fazer para que o potencial se torne realidade. A minha oração é que não quero ser apenas uma promessa. Renovo a fé, retomo a aliança com o tempo.
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quinta-feira, 15 de julho de 2010

ICQ e a efemeridade da importância


Na maioria das nossas relações interpessoais, o nosso contrato social exige apenas uma interação funcional - com seu supervisor, apenas a faceta profissional; com o gerente da sua conta no banco, apenas o seu rendimento; com colegas de faculdade, a faceta acadêmica. Não se espera mais do que isso, mesmo que em algumas ocasiões, a relação pode extrapolar os limites pré-estabelecidos. Mas, quando começamos a buscar uma interação mais completa, explorando talvez a pluralidade das facetas que expomos e compartilhamos? Pode acontecer uma confusão entre a interação com a pessoa em si (todas as facetas) ou apenas com a função que ela exerce no suposto contrato social estabelecido. Sei que analisar deste modo parece muito analítico, por isso quero tentar trazer para uma compreensão mais pessoal. Para isso, temos que responder: como consideramos ou como somos considerados por tal pessoa?

Amigo ou ombro amigo?
Confidente ou alguém de confiança?
Memória ou lembrança?
Companheiro ou companhia?

De um lado, a posição de alguém que não representa apenas um papel na vida da outra pessoa. O amigo, confidente, companheiro, o que gera memórias constantes. É o que queremos ser para as pessoas que realmente nos são importantes. Do outro lado, o ombro amigo, alguém de confiança, uma companhia ou alguém que evoca lembranças. São apenas papéis que representamos na vida de algumas pessoas - relacionamentos baseados em conveniência, ou seja, completamente superficiais e dispensáveis - mesmo que a característica em questão seja algo pessoal. Assumimos papéis na vida da outra pessoa - ora pelo momento em que se vive, ora pela personalidade que se tem. 

A frustração que pode ocorrer é a de, por exemplo, acreditarmos sermos amigos e na verdade sermos apenas ombro amigo. Geralmente isso ocorre quando o relacionamento se baseia ou inicia em um momento específico (e intenso) da pessoa - a morte de um ente querido, início de uma faculdade ou novo emprego, término de um relacionamento. Com o passar do tempo e o compartilhamento de uma experiência tão marcante, pode-se criar uma ilusão de um suposto envolvimento completo ou mais significativo. Afinal, seria muita insensibilidade não considerar importante alguém que passou por um momento tão importante com você, né? Na verdade, não. Algumas vezes, é exatamente isso que acontece - a pessoa é justamente apenas um ombro amigo, alguém que está lá nos momentos difíceis e que "some" nos momentos bons. A pessoa é apenas uma companhia no momento ruim e não um companheiro para todas as etapas da vida.

Basta ver a sua lista do ICQ, os testimonials do orkut mais antigos ou uma lista de e-mails de alguns anos atrás. Sem dúvida, você encontrará alguém que supostamente era um grande amigo (ou grande amor), alguém que era tão importante e que, se você não encontrasse a lista por acaso, nem lembraria da existência dela. Amigos que eram tão próximos e que hoje só se lembra (e olhe lá) nos aniversários. O fato é que há pessoas que consideramos mais importantes do que elas nos consideram - e o oposto também acontece. Ou seja, nossa importância é relativa e efêmera.

Eu sempre fui um "resolvedor de problemas" e por esse motivo, tive muitos relacionamentos pessoais que começaram com a premissa de um momento intenso. Conversei com muitas pessoas em momentos difíceis e pude aconselhá-las ou confortá-las. E praticamente todas elas, após resolverem seus problemas, desapareceram e seguiram com suas vidas. Não estou aqui pra reclamar disso ou dizer que "ninguém me ama, ninguém me quer". Apenas expondo um fato inegável - quanto mais nos apegamos aos nossos papéis, menos expomos a nossa totalidade. Com isso, negamos a oportunidade de criarmos relacionamentos mais significativos e aumentamos a incidência da solidão.

Não posso negar que me entristeci com algumas pessoas que acreditava ter uma interação mais completa, assim como sem dúvida já devo ter causado tristeza a alguém por descreditar a confiança dela no mesmo fato. Aprendi a aceitar mais a minha posição em algumas relações e já não fico mais (tão) abatido, mesmo que ainda perplexo, com algumas (não-)reações. Infelizmente, não se consegue ser forte e consciente todos os dias. 

Pessoa ou papel representado? Quem é você hoje?
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terça-feira, 6 de julho de 2010

(Re)escrevendo a trama e a música


Lulu Santos é um dos meus artistas favoritos. Sou uma pessoa que gosta bastante de falar, mas ouvindo algumas músicas dele, não encontro necessidade de acrescentar palavras ou comentários. 'Escrevi' o texto abaixo, mas apenas usei versos das músicas dele. Para todos os efeitos, então, pode-se dizer que reescrevi este texto.

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Eu não pedi pra nascer, eu não nasci pra perder.
O que eu ganho e o que eu perco, ninguém precisa saber.
Eu quero crer no amor numa boa.

Cruzou meu caminho e mudou a direção.
Bela como a luz da lua
Primeiro era vertigem, mas
não diz tudo que quero dizer
Me dá um beijo então, aperta a minha mão.
Ela me faz tão bem, ela me faz tão bem.
Pra dizer mais sim do que não.
Eu vejo a vida melhor no futuro.
Será miragem, será mistério

Dessa história, ninguém sabe o fim.
Vamos viver tudo que há pra viver
Dar o braço a torcer.

Se amanhã não for nada disso, caberá só a mim esquecer.
Talvez eu seja o último romântico.
Somos medo e desejo.
Pode até parecer fraqueza, mas que seja fraqueza então.
Se é loucura, melhor não tem razão.
Repleta de toda satisfação

Tolice é viver a vida sem aventura.
É melhor não resistir e se entregar.
A quase ninguém.
Se não houvesse o silêncio,
Tão lentamente, de repente
sonâmbulo, insone e insano.

Tudo que cala fala mais alto ao coração
Pra você ver que eu to voltando pra casa, mas
Tem certas coisas que eu não sei dizer.
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segunda-feira, 5 de julho de 2010

Pequenas vitórias e a frustração dos milestones


Nos últimos meses, andei rascunhando um texto sobre os marcos que temos durante a vida, quase todos como rituais de passagens para aceitação na sociedade. Estava lendo o último post do Marcel e achei uma boa idéia tentar desenvolver o tópico, usando uma abordagem mais empírica. 


Em linhas gerais, o marco principal da vida de uma pessoa é quando ela deixa de ser uma criança e se torna um adulto. Em algumas culturas, deve-se passar por um tipo de provação para mostrar que atingiu a maturidade para ser considerado um adulto. Pensando na nossa sociedade atual, a "provação" seria tirar a carta de motorista ou entrar em uma faculdade. Convenhamos que isso de forma alguma estabelece a maturidade do infante que supostamente se tornou responsável pelas suas ações. Independente da valia dos marcos, eles não deixam de existir. Passar no colégio, ser aprovado no vestibular, tirar carta de motorista, passar na faculdade, arranjar um bom emprego, casar, ter filhos. 


A verdade é que a pressão colocada sobre o menino de 14 anos que tem que ficar sobre uma pilastra por dois dias ou do outro rapaz que precisa ingerir os fluídos dos anciões da vila para que se tornem adultos é de certo modo menor do que a que é colocada sobre nós. Para estas culturas, após esse ritual, eles já estão aprovados. Agora para nós, os eternos estudantes e trabalhadores, a pressão nunca acaba. Como o Marcel indicou bem no texto dele, há sempre a espera pelo próximo passo, o próximo milestone.


O que quero destacar é que se trata de uma postura humana, independente da cultura, de se criar grandes marcos no decorrer da vida da pessoa. E tentar nortear nossa vidas com base nestes pontos jogados ao léu. O que acontece é que até se entrar no colégio, não há muito espaço para desvios no caminho traçado, porém, após esse ponto, tudo se torna variável ao extremo. Ao contrário do que acontece com culturas mais antigas, a sociedade urbana atual impede que esses marcos sejam claros e, por conseguinte, impede que as pessoas consigam passar por eles de modo natural.


Mesmo após todo esse vai-e-vem sociológico, não perdi o foco principal. Quando falei sobre abordagem empírica, quis falar sobre a minha experiência e, sem dúvida, a de diversos amigos e colegas. Salvo os poucos que realizam os seus sonhos e planos sem desvios no caminho, os outros passamos por diversas provações. Uma amiga entrou em depressão por não conseguir estabelecer qual era o próximo marco que ela deveria atingir - isso a afetou de tal modo, que a sensação de deslocamento se tornou insustentável, recorrendo para um isolamento nocivo. Alguns amigos estão passando por mudanças drásticas em relação a carreira profissional, outros, mesmo aparentemente bem sucedidos, relutam para encontrar uma motivação maior para as suas atuações. Eu ainda brigo todos os dias com a convicção que insiste em crescer de que me tornei inútil e incapaz. E tudo isso porque a pressão de atingir o próximo marco pesa sobre nossa vidas - encontrar um (bom) emprego, achar uma companheira, ter estabilidade financeira.


O fato é que se encararmos a vida como uma sucessão de grandes "linhas de chegada" é quase uma receita infalível para a frustração ininterrupta. Para que isso seja evitado, temos que nos focar no passo-a-passo, nas pequenas vitórias (ou derrotas) que temos durante a vida. Como escrevi nesse texto, são os detalhes que mudam a nossa perspectiva do todo. Percebi que não adianta encontrar um bom emprego apenas - a satisfação será apenas temporária, porque logo aparecerá a pressão pelo próximo 'grande acontecimento'. Como comentei lá no texto do Marcel, tudo que se precisa é uma viagem com os amigos, aprender algo ou ir a um lugar diferente, se esforçar para não perder o fim de semana para o desânimo. 


Admito, todavia, que ando perdendo muito mais essa luta do que vencendo, admito que a vontade de me tornar mais recluso e distante tem sobrepujado o meu anseio de dar pequenos passos em direção a um lugar desconhecido (e sem saber o quão longe estou de chegar). Mas ao menos, posso admitir para mim mesmo que sei o que posso mudar para tentar ser melhor. Pelo menos para o dia de hoje, que é o que a mim cabe.
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