segunda-feira, 1 de abril de 2013

Por alguns furos a menos no cinto e alguns dias a mais de vida - Reeducação alimentar, dia 22


Hoje é o vigésimo segundo dia da 'dieta'. Ainda não tive resultados concretos ou duradouros - não tem como analisar algo pela sua constância após apenas 21 dias. Mas posso afirmar é que pela primeira vez estou em uma dieta que estou seguindo sem desistências, recaídas e regalias. Acredito que isso se deve a uma série de fatores, alguns dos quais que decidi escrever para auto-conhecimento e também para, quem sabe, dar uma ajuda para as duas ou três pessoas que ainda leem isso aqui.

No fim das contas, aquela história de que a "mudança começa dentro de você" é verdade. Mas é necessário perder a mentalidade cartesiana de que a mudança é apenas linear. Como se poderá ver nas linhas abaixo, para mudar meu peso, eu precisei de fato mudar minha alimentação. Mas isso só se tornou possível após mudar meu pensamento.

1) Transitório que se torna permanente

Vejo sempre comentários e fotos de pratos no Facebook/Instagram sobre refeições e regimes sendo feitos, sempre com a ressalva de "Projeto Verão (insira aqui o próximo ano)" ou algo similar (como "projeto casamento", por exemplo). Não quero julgar o objetivo das pessoas que fazem isso, mas isso fere uma questão básica da nossa vida - a continuidade pós-verão-insira-aqui-o-próximo-ano ou pós-matrimonio. A pessoa se mata em um regime espartano para caber no terno ou vestido, consegue por pouco, quase desmaiando. Na festa, evita de comer (ou respirar fundo) para não abrir a costura ou estourar um botão. Quando tira a roupa, parece que saiu de uma camisa de força. Dois meses depois, boa parte do peso já voltou. O que mais ouço nos relatos de experiências de dietas que foram feitas (geralmente as "bizarras" que a pessoa come um quilo de presunto por dia, corta todo carboidrato ou toma sopas apenas) é o seguinte: "consegui emagrecer x quilos, mas depois que eu voltei ao 'normal', engordei tudo de novo".

Sem querer entrar a questão do imediatismo como mal social (não é este o propósito deste texto), o fato é que em questões relacionadas ao corpo, principalmente após uma certa idade (beirando os trinta, por exemplo), as nossas ações (e reações) começam a ter um perfil mais permanente. Quem nunca ouviu alguém que já passou dos 30 dizendo que "agora não é mais tão fácil perder peso assim"? Como o objetivo do texto também não é entrar no viés biológico-metabólico, deixe-me tentar resumir dizendo que o primeiro fator que me levou a este cenário de sucesso inicial é o de reconhecer que esta 'dieta' ou 'regime' não se trata de algo temporário ou transitório - ainda que parte das restrições sejam de fato momentâneas. Comer menos, de forma mais saudável, com salada, legumes, vegetais, cortando frituras e refrigerantes, evitando doces, tudo isso se trata de algo que tem se tornado permanente na minha vida. A idéia de algo transitório nos dá o argumento de poder deixar para depois (para a próxima segunda-feira, o próximo verão). Agora quando a mentalidade do permanente se instala, você percebe que uma semana a menos de cuidado pode significar uma semana a menos de vida. Mas vou falar mais sobre motivação no item 5.

2) Adaptar sem comprometer

Uma questão que tenho clara na minha vida é que um extremo tende ao outro. Assim, se você come quilos de junk food e outras tranqueiras, a sua concepção de mudança será mudar radicalmente para o outro lado, com folhas, cores e falta de sal. Parte desta dieta foi um corte feroz de certos alimentos que consumia diariamente. Inevitavelmente, em alguns dias senti fraqueza, tontura e um cansaço inesgotável. Ainda sinto, para ser sincero. Nas tentativas anteriores, mantive uma postura irredutivel em relação aos alimentos, não dando abertura para pequenas porções em nenhuma ocasião. Isso levou a recaídas monstruosas - duas semanas sem comer frituras e de repente lá se vão 5 pedaços de pizza; ou da vez que fiquei quase um mês sem comer doce, depois comi praticamente dois chocotones em um fim de semana.

Desta vez, eu admito que não segui à risca o que estava no papel. Não podia comer frutas no começo, mas eu comi mesmo assim. O mesmo com uma batata assada aqui, uma colher de arroz ali. Em doses pequenas, bem menores do que estou acostumado a comer. Mas os verdadeiros "inimigos", eu evitei ao máximo. Aos poucos, eu fui adaptando as refeições. Ainda não encontrei o perfil ideal de refeição, mas já estou aprendendo a reduzir as quantidades de forma saudável. Visto o pedaço de bolo que comi no fim de semana (que mais parecia um carpaccio de bolo, mas enfim).

3) Negar o que se quer gera novos "quereres"

De novo, não vou analisar demais a frase acima, pois pode levar a interpretações diversas e, honestamente, até nocivas. Ao invés disso, vou tentar falar primeiro sobre os "quereres" que tive que negar: querer um doce após o almoço, querer uma pizza no fim de semana, querer mais um sanduíche (mesmo sendo em pão integral e com peito de peru), querer tomar um copo de coca-cola gelada num dia quente, querer colocar nutella ou leite condensado pra deixar a salada de fruta mais saborosa. Enfim, tem outros aí, mas este são alguns.

Depois de lutar um pouco com estas vontades, eu percebi que algumas coisas mudaram - por exemplo, na refeição da hoje, eu me peguei querendo mais variedade de salada além da alface/rúcula/cenoura/tomate que ocupavam metade do prato. Outro dia também percebi que queria comer algo doce, e que este algo era uma fruta. Percebo que quero comer um pouco menos porque isso me deixa mais alerta, não sinto tanto sono após o almoço. Enfim, não vou mentir e dizer que não tenho vontade de comer um chocolate de vez em quando ou que no dia da feira eu quero comer três pastéis enquanto bebo um litro de caldo de cana. Mas agora estes quereres tem que dividir a minha atenção (e disposição) com muitos outros e, por isso, perdem a força. Ter opções devolve o poder para quem escolhe - parte desta experiência está fazendo exatamente isto, colocando mais cartas na minha mão, me deixando escolher o caminho (ou prato).

4) Não se muda o mundo sozinho. Nem a si mesmo

Claro que se você não quiser mudar seus hábitos, você não muda - não importa quão disciplinado ou quão controlado (seja por si próprio ou por outra pessoa) você seja. (A não ser que você esteja na cadeia, acho que aí você não tem escolha a não ser comer o que te servem.) Eu já tentei várias vezes fazer regime ou dietas mirabolantes, mas é difícil manter a disciplina quando se tenta fazer sozinho - basta um dia que se chega atrasado em casa (o que não é difícil, considerando o estado do transito nesta cidade) para que a sua rotina se perca, para que não dê tempo de preparar uma refeição digna e se apele para às soluções imediatas, como o Fandangos e o Miojo. No meu caso, a caixa de BIS sempre foi a culpada das minhas recaídas, como se fosse uma ex-ex-namorada que você procura quando termina um relacionamento - isso se ela viesse com deliciosas fatias de wafer e cobertura de chocolate.

O fato é que em todas as minhas tentativas (e falhas) anteriores tiveram sempre algo em comum (além do BIS): eu sempre tentei mudar sozinho. Eu tentava montar planilhas e me programar para as refeições e exercícios. Mas, como eu disse acima, disciplina exige de certa forma uma rotina quase que fixa, o que não era (e não é) a minha realidade. Se você trabalha em outra cidade, pega transito ou transporte publico e ainda tenta estudar ou fazer outras atividades no tempo que te resta, você vai concordar comigo que raramente uma semana é igual à outra. Dessa vez, eu pedi ajuda. Minha mãe e avó, para ajudar com as refeições. Minha noiva, para ajudar com o apoio diário e o "manter na linha". Pra quem sempre carregou o mundo nas costas, não foi algo fácil de se fazer, mas agradeço a Deus todos os dias por ter tido a lucidez (e humildade) de fazê-lo.

5) Ação certa (sem motivação certa) não se sustenta

Meu peso não sofreu nenhuma alteração considerável nos últimos 4-5 anos. Não que isto seja algo bom, afinal não alterar quando se está 25% acima do seu peso saudável e entrando em 'obesidade 1' definitivamente não é bom. Das outras vezes que fiz regime, a minha motivação sempre foi óbvia: perder peso. A qualquer custo, queria emagrecer. Parte pela questão da saúde (que era minha desculpa "nobre"), mas também pela questão fenótipo-estética (alto de olhos verdes - ok; gordo e careca - não tanto). Pelo imediatismo, logo que via que o peso estava demorando a desaparecer (Já estou a dois dias sem comer chocolate! Corri 10 minutos na esteira! Por que não emagreci?), desanimava e abraçava a vida de deleites.

Desta vez (por vários motivos que também não pretendo abordar), minha motivação é outra. Minha motivação é que eu não quero morrer de ataque cardíaco com 40 anos ou não ter fôlego para brincar com meu filho. Quero ter saúde pra viver muito tempo. Emagrecer é apenas uma consequência disso, tanto que não me pesei desde que comecei a dieta desta vez. Acredito que este também é um dos fatores que tem me levado a este sucesso inicial - além de ter as ações certas, a minha motivação está correta. Como dizem por aí, "meu coração está no lugar certo".

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Espero poder voltar daqui alguns meses aqui e escrever mais sobre o sucesso dessa busca por um equilíbrio saudável. Falar sobre a mudança do gosto, a educação do corpo para buscar uma alimentação correta e os resultados literais desta nova postura.
Apenas comemorando as pequenas vitórias.