segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

When the dawn dawned on me

Algumas vezes, eu deito na cama e penso que o dia acabou. Estou cansado e já dirigi demais. Já andei demais, ri demais e falei demais. Aí chega uma mensagem e eu, um pouco contrariado, abandono o edredon e pego mais uma vez a chave do carro.

Já fazia tempo, tempo demais. Muitos sóis se passaram enquanto o monstro estava debaixo da pedra. E da pedra tinha apenas o receio de ficar como Sísifo e ficar empurrando para cima aquilo que certamente cairia. O sol havia se posto outra vez, e eu não queria vê-lo de novo com essa pedra no sapato. A cabeça estava recostada na pedra e a pedra teria que ser removida.

Neste momento específico, faltavam 4 dias pro sol nascer.

Foi-se a pedra e amarrada nela a lista de pensamentos e suposições que eram mais pesadas que a pedra em si. E ela foi pra bem longe, pro fundo do mar do esquecimento. Debaixo da pedra, apenas a marca do que um dia foi. Mas na fenda deixada, mesmo que não parecia ter nada, havia um algo pequeno e de muito valor. Algo familiar. Então guardei de volta aquilo que ainda era meu. De volta para o peito.

No caminho de volta, nem mesmo a porta se fechou, veio o riso. Nada melhor que olhar para trás e ver que não há mais nada que luta para te prender por lá. Alguns segundos passaram e a mensagem já havia propagado o que fora cultivado nos últimos meses - os frutos de uma decisão correta. Não foi agradável, não foi fácil. Mas pela primeira vez, em tanto tempo, o mesmo caminho de volta pra casa que havia sido trilhado com receio e dúvidas, desta vez foi corrido com inigualável paz e com um sorriso igualmente extenso.

Ultimamente, a insônia me ajudava com a ilusão de empurrar o sol adiante. E, faltando 3 dias pro sol nascer, enquanto alguns dos raios já despontam indicando o fim da aurora, pela primeira vez em tempos desejei ver o sol nascer de novo.

Mais do que um ano que "promete", vejo que esse será um ano que "cumpre".

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Ho ho ho!

Nunca gostei dessa época do ano. Nunca fui muito fã de Natal e Ano Novo, nunca gostei também desta mania de todo mundo se ver, se abraçar e desejar feliz natal como se realmente se importassem com os outros. Quem realmente se importa, não espera até o natal para desejar coisas boas. Em casa nunca tivemos o costume de fazer uma ceia de natal, nada a ver com religião, apenas decorrência de uma família não muito unida. Talvez por isso eu sempre me sinto esquisito ao ver aquele bando de gente, inclusive os não-cristãos, se reunindo supostamente para comemorar o dia escolhido para celebrar o nascimento do menino Jesus.

It's Christmas time again, it's to be nice to the people you can't stand.

Outra coisa que eu não entendo também são essas mensagens "mala direta" de feliz natal. Não acho errado querer "coisas boas" para todo mundo, mas você só declara de fato para as pessoas que realmente são próximas. Você não vai sair pelas ruas entrando nas casas dos outros e desejando feliz natal a torto e a direito. Aqui no Brasil é bem provável que o espírito natalino não seja forte o bastante para te impedir de ser enxotado aos tapas. Mas essa ojeriza toda não existe apenas por causa natal, mas sim por todo "feliz qualquer coisa" que existe durante o ano. Recebi tanto no celular como na scrapbook alguns feliz natais. Sei que alguns deles foram pessoais, mensagens "exclusivas" (apenas pelo fato de não ter mandado a mesma coisa para todos). Mesmo assim, eu não respondo nenhuma.

You people scare me, please stay away from my home. If you don't wanna bring me down, just leave the presents and then leave me alone.

Esse ano, porém, foi um pouco diferente. No dia 25 fizemos um almoço em casa e reunimos parte da família (exceto meu pai). Foi muito divertido, comer com todo mundo e ficar batendo papo. Foi, de longe, o natal mais familiar que eu já tive. Geralmente, nesse período entre natal e ano novo é a minha época de "fechamento para balanço" - e quase sempre isso também resulta em um post aqui. Ter um natal diferente era um dos pontos que eu estipulei no fim do ano passado e definitivamente a sensação de missão cumprida deu novas cores ao festival natalino.

Alegria aos homens, paz e boa vontade na Terra.

Ainda não sai comprando presentes, colocando árvore de natal ou organizei um amigo secreto entre os familiares. Também não sai comprando cartões de natal e os comerciais de natal da Coca-Cola ainda me enojam (na verdade todos me enojam... que diabos de mundo fantástico é esse que eles inventaram? Pessoas pulando corda no topo dos prédios, ursos polares que bebem Coca e até um cérebro que manda a língua lamber sabão e o olho (não sei como) descascar cebola). Não que seja a comemoração do nascimento de Jesus, mas encarando como uma festa "a la Cristo", como Ele fazia no período aqui na Terra - comunhão, risadas, aproximação dos irmãos e amigos e, obviamente, bastante comida. O fato é que nesse ano, o natal foi menos intragável que nos últimos anos - quem sabe nos próximos anos eu até me torne um grande adepto da comemoração? Isso sim seria um milagre de natal.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Half

1

Desistindo
de mim mesmo
do mais do mesmo


2

Defina que definha.

3

Desafia que desafina.

4

Mesmo assim a lista do meu msn continua vazia.

5

Quando o mundo me estranha,
eu ainda confio em você.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Papo Animal

- Pô, você come que nem um porco e, de repente, sai correndo que nem um elefante e pula que nem uma gazela na frente do carro por causa do bicho de estimação daquela vaca? Você é burro?

- Ah, você sabe, sempre fui pato por cachorros. Sorte que a motorista era uma tartaruga. Vamos embora porque já tem um monte de urubu em volta e não vou ficar ouvindo essa maritaca papagaiando sobre o incidente.

- Tudo bem. Aliás, hoje vou sair com aquela gata da faculdade.

- Você tá galinha, hein? Essa mania de lobo mau ainda vai te fazer acordar com a boca cheia de formiga.

- Vira essa tromba pra lá! Tá pior que gato preto, seu veado.

- Melhor dar coice que nem cavalo do que dar abraço de tamanduá. Pelo menos não sou amigo da onça.

- Tem razão. Bom, vamos almoçar que eu to com uma fome de leão.

- Vê se acha um lugar perto que eu não quero andar que nem camelo!

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Retalhos

A vida é uma colcha de retalhos literários. Mistura-se cartas com prosa, poesia com romance, ficção com confissões, sonetos com ou sem rimas. E é essa colcha que te cobre na hora de dormir. Um pouco em um dia, outro em outro.
E hoje é um dia daqueles que não acontecem apenas uma vez. Não lembro se é quarta ou quinta, não lembro também como é sentir que isso de algum modo faça diferença. Os dias são iguais e, junto com a minha insensibilidade em relação aos dias, não sei quando veio a minha indiferença em relação à vida, mas ela resolveu se instalar.


"Um rosto estranho fazia minha barba no espelho."


Dia sim, dia não, o rosto fica limpo e com esta cara lavada eu coloco meu disfarce de gente politicamente correto e vou para a minha via crucis diária. Ao contrário do que muitos pensam, apesar de ser o ápice da dor, o Gólgota também é o fim - e por isso é o lugar mais "esperado". Olho no relógio, 17h45 e mais um dia passou sem fazer diferença alguma. Olho no calendário, meados de dezembro e mais um ano passou sem que mudasse algo. Tenho essa fé de que na hora certa tudo se encaixa. O receio é não estar com as peças nas mãos na tal da hora.


"Esperou a hora certa, mas estava atrasado."


Você já pulou corda? Eu sempre achei divertido, um jogo interessante. Aprendi que se eu movimentasse minhas mãos junto com a corda, eu saberia o exato momento de começar a pular. E assim eu aprendi a dançar conforme a música, mesmo que usando os meus passos de dança. Até certo ponto, eu era o melhor pulador de corda. Não aos olhos do mundo, mas aos meus - afinal a idéia de ser considerado o melhor pulador de corda por alguém exceto a mim mesmo é extremamente decepcionante. O problema é que hoje, apesar de conseguir pular, eu não consigo me ver como o melhor. O mundo cresce demais e a gente fica tão pequenininho. Quando se é pequeno, se acha grande. Quando se fica grande, se percebe como se é pequeno.


"Lembrava mais do passado que do presente. Morreu empoeirado."


Esse conflito entre o ontem e o hoje é muito presente na minha vida. Tanto que muitas vezes eu acabo trocando o tempo verbal e, desse modo, eu faço a frase ou até o texto perder o sentido. Tem dia que eu nem sei pra que eu escrevo. Um dos segredos que eu uso é o de não confundir simples com fácil, nem complicado com difícil. Geralmente o que é simples se torna difícil e vice-versa. Talvez seja uma questão de semântica ou apenas a necessidade intrínseca de fazer a vida ser mais importante do que realmente é. E nesse vai-e-vem de disse-que-disse e chove-não-molha, eu tenho certeza que complico algumas coisas simples. E tento facilitar algumas difíceis. Faço da minha vida uma tentativa (frustrada?) de um paradoxo paralelo. O problema é que as linhas paralelas só se encontram no infinito.


"Achar que sexo era simples complicava sua vida."


Admito que sempre encarei o mundo de modo racional, lógico, matemático. Certas coisas devem ser divididas, algumas vezes se deve somar experiências e outras subtrair-se para que não multipliquem os problemas e as preocupações. Tenho facilidade de aplicar conceitos de uma área em outra. Acredito ser uma qualidade. A verdade é que dificilmente enxergo uma delas em mim e ultimamente até as que via foram se esvaindo, como miragens sendo desfeitas pela escura realidade. No deserto, durante o dia as coisas são diferentes - há receio com esperança, há risco, medo com coragem e ímpeto. Mas a noite é igual na cidade, no campo, no deserto e no mar. Ás vezes, a escuridão revela com mais clareza a realidade. Talvez porque no claro estamos expostos e por isso nos escondemos, nos guardamos embaixo da máscara. Mas à noite... Ah, a noite.


"Calculou o que estava mais vazio, o copo ou a noite."


Vez ou outra eu olho pra trás e penso se seria diferente se eu tivesse agido de outro modo. Se eu tivesse acreditado mais em mim e na gente, sabe? Aprendi que só olhamos pra trás com medo das coisas que não temos certeza do futuro no presente. Falando assim parece óbvio, mas o fato é que em todas as escolhas que eu fiz até hoje, em todas (exceto esta[s?]) eu consegui adquirir uma certeza de um futuro. Porque em alguns casos, ter vida não significa ter futuro. E uma curva errada é o bastante para seguir o caminho da vida sem ninguém no banco do passageiro. Enquanto eu não tenho certeza, eu me convenço de que estou certo e de que foi e acabou.


"Não era um grande amor, cabia em uma frase."


Uma vez eu ouvi que o segredo para acreditarem quando se mente é acreditar na mentira. No começo era mentira mesmo, eu mentia pra mim e pra todo mundo afinal, uma vez disseram que uma mentira dita muitas vezes se torna uma verdade. Apesar de não concordar com a frase e muito menos com o autor dela (Joseph Goebbels era uma espécie de RP de Hitler e a frase estava vinculada a algumas das muitas investidas anti-semitas dos nazistas), eu não via alternativa a não ser me convencer mesmo daquela verdade. Os amigos que caminhavam ao meu lado me ouviram por diversas vezes dizer que era o fim, que tudo havia acabado, apenas para me ver novamente cair em contradição atos x palavras. Eventualmente, quando eu resolvi parar de falar, a verdade aos poucos veio à tona. Acho que o tempo resolveu dar uma mão e aquilo que eu queria se tornou real. Não adianta falar muitas vezes, o segredo é simplesmente não falar. Apesar de hesitar por muito tempo, houve êxito. Não posto à prova, porém.


"Mas foi derrotado por sua própria vitória."


Apesar de não gostar do Paulo Coelho, concordo com uma frase, ou melhor, o título de um dos seus livros: O vencedor está só. Quando se sai de uma batalha árdua ou uma guerra, parece que temos que dar uns passos para trás para depois voltarmos a seguir em frente. Talvez para voltar à origem, curar as feridas, consertar os problemas, analisar os erros e por aí vai. A questão é que quando no campo de batalha, o retorno e o tratamento são feitos por quem se especializou nisso. Mas, e quando a batalha é contra você mesmo? A tendência ao ostracismo foi agravada e, pela primeira vez, vista com olhos destemidos. Em algumas situações, perder o medo é um mau sinal. Essa era uma delas.


"O amor é um elevador que não pára mais em meu andar."



A pior parte de se isolar do mundo é perceber que aos poucos o mundo faz questão de provar que você está conseguindo. Não é minha intenção "culpar" ninguém por agir de modo a isolar um ou outro. Na ostra da vida, apenas nós mesmos podemos fechar a concha. Se nós fechamos as portas, um dia as pessoas param de bater. E as coisas não são diferentes em relação a sentimentos. Se colocarmos aquelas faixas de isolamento, no começo as pessoas se aproximam por curiosidades mas logo se desinteressam. Se eu fosse um prédio, alguns andares estão lacrados, inacessíveis. Acho que eu vi o tamanho da bagunça que eu fiz na cozinha da minha vida que resolvi deixá-la assim, trancada. E aos poucos, como ninguém vinha mais visitar ou bater à porta, eu realmente voltei a acreditar que ninguém mais apareceria por lá. Do lado de dentro, silêncio. Do lado de fora, a dúvida. Será que ainda tem alguém lá dentro? Tem dia que eu acordo e tenho certeza de que eu nunca mais irei usar a chave para aquele andar. Seja para abrí-lo ou para emprestar a chave para alguma inquilina interessada.


"Às vezes, mesmo ausente, está lá."



Depois desse ponto, dificilmente acordar e me olhar no espelho era uma tarefa fácil. Escovando os dentes ou tomando banho, junto com a água, eu vi os sonhos, desejos e planos irem aos poucos pelo ralo. E tudo culminou nesse ponto. Eu me tornei uma folha em branco, uma história com muitas páginas e que agora, sem ter mais para onde desenvolver a minha trama, via a página em branco e a única vontade que existia era a de dar um ponto final em tudo. Como um seriado que foi cancelado no meio da temporada e às pressas se escreve um final qualquer e, assim, tudo acaba. Eu me cansei desse roteiro e não queria mais escrever. O ponto mais baixo da minha vida. Quartas e domingos eram iguais há tempos. Não tinha mais rostos novos e o escritor não tinha mais ímpeto para adicionar novas personagens. Não me acho mais alguém interessante a ponto de alguém novo querer fazer parte da minha vida. E essa idéia se instalou e eu pensei que a esperança não existia mais. Mas, recentemente, eu percebi que mesmo quando ela não está tão aparente, não quer dizer que ela não está presente. Curioso é ser capaz de acreditar em Deus e duvidar da minha existéncia. Mas na minha mente faz(ia) perfeito sentido.


"Era um conto muito velho, que só queria acabar."



Por muito tempo eu acreditei em conto de fadas. Aquela coisa toda de amor à primeira vista, mulher perfeita, castelos e magia. Acreditei em felizes para sempre. Acreditei em mulheres inocentes e que o mundo era cruel. Acreditei no melhor das pessoas e que poderia salvar o mundo. E, como sempre, um extremo tende ao outro. E eu deixei de acreditar. A melancolia por ter que traçar essa linha entre realidade e fantasia muitas vezes me engolia, mas não sem antes me mastigar e me deixar em pedaços. A linha estava sempre aquém do que eu gostaria e a realidade sempre pior do que eu acreditava.
Como eu disse no início, a vida é uma colcha de retalhos literários. No começo, os contos eram repletos de fantasia, alegria e a crença ininterrupta no melhor do mundo. Mas era tudo falso, pois não tinha base real, apenas a crença de um menino que via o mundo pela fantasia, nas histórias de gibi e nos livros do Pedro Bandeira. Eventualmente, se tornaram carregados com tristeza e determinismo. Eu realmente acreditei que estava chegando no meu Apocalipse. E se eu continuasse nessa linha, provavelmente chegaria lá.


"Desistiu de se matar e foi ver uma comédia. Morreu de rir."


O fato é que eu sou um romântico inveterado, acredito em amor eterno e que fazer uma mulher sorrir é metade do caminho andado para o coração dela. E mesmo que o mundo grite pra mim que isso é bobagem e que é apenas resquício de um sonho pueril, eu vejo claramente hoje que só sobrevive ao teste da realidade, aquilo que é mais forte que o mundo. E hoje ainda vive aqui dentro a fé, a criança que ri, a certeza do amor e a esperança de que os dias ainda serão diferentes de novo.

E uma conversa de 10 minutos pode mudar a conclusão do seu conto. Porque algumas pessoas fazem valer a pena mudar o roteiro.

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Inserts por A CASA DAS MIL PORTAS