domingo, 23 de maio de 2010

Poeira cósmica, Eons e Predestinação


Recentemente, li uma frase de um autor desconhecido: "Cometh the hour, cometh the man". Em uma tradução livre seria algo como "quando é chegada a hora, o homem virá". Tanto a tradução como a interpretação podem estar equivocadas, mas em suma, a idéia é de que quando uma situação se apresenta é porque de algum modo já se está pronto para enfrentá-la. 

Nunca me dei bem com a concepção de destino ou, melhor dizendo, predestinação. Ao meu ver, nós tomamos as nossas decisões e direcionamos a nossa vida - nossos atos e omissões que definem a nossa caminhada. Há quem diga, que por ser cristão, acreditar nisso seria contradizer a minha fé, afinal o Livro diz que "todos os nossos dias estão traçados perante Deus". A minha postura não isenta esta afirmação, afinal quem sabe é Deus, a mim cabe conhecer apenas o que ocorre hoje. Aos meus olhos, eu tomo as minhas decisões - inclusive a de abrir mão desse direito. (Nota mental: segue uma frase paradoxal) Mas voltando ao "destino", com base na frase mencionada no primeiro parágrafo, eu tenho que abrir um parêntese, mesmo não sabendo se irei fechá-lo.  

Sabe aquela idéia de "estar no lugar certo, na hora certa"? Não adianta nada se você não ser a "pessoa certa" - não apenas por ser a pessoa, mas também por "estar" a pessoa. Não posso negar que alguns acontecimento se encaixam e que, de certo modo, existe uma espécie de "destino". (Digo isto porque não existem coincidências.) Mas, que diferença isso realmente faz? Na afirmação inicial, não cabe a mim focar no "quando é chegada a hora" pois, de modo algum, eu tenho como agir nessa parte - eu sou responsável pelo "o homem virá". 

Aliás, essa questão de agir em prol do bem maior ou essa concepção de que somos especiais são pontos sobreestimados. Somos apenas pó, grãos de areia, insignificantes e microscópicos em relação a dimensão de toda a criação/evolução. Vida, morte, amor, sofrimento, paz, guerra - tudo sobreestimado. Dá-se valor a tudo isso para que a nossa própria existência seja valorizada. Não se trata de uma percepção niilista da vida, acredito ser algo mais simplista, a bem da verdade. Preocupação com controle de natalidade, proteção ambiental, qualidade de vida, camada de ozônio quando por eons a Terra tem subsistido e se renovado? Não tenho nada contra as atitudes em prol da preservação do mundo, não me isento da minha responsabilidade ao separar o lixo para reciclar ou tentar viver uma vida mais "verde" - apenas acho que se exagera na real abrangência e efetividade dessas ações. O homem perde tanto tempo tentando mudar o mundo, consertar os erros e tudo o mais - por uma mera existência individual de menos de uns 80 anos, talvez estendida por intermédio de lembranças ou um legado que perdurará por talvez mais alguns séculos ou uns milênios? 

Dito isto, o que fazer? Bom, sei que não vou me preocupar com o que não posso mudar e não vou me deixar levar pela ilusão de controle. A mim, cabe a minha vida (assim como a cada um) e para cada dia, cabe o seu devido mal. Ao homem o que é do homem e a Deus o que é de Deus. 

"Quando a solução é simples, Deus está respondendo." - Albert Einstein
.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

A ordem dos fatores


Insônia significa ausência de sono. Mas nem sempre ausência de sono significa insônia - o sono pode se perder por diversos motivos, mesmo que apenas um motivo é necessário para recuperá-lo.

Alegria é a ausência da tristeza. Mas nem sempre a ausência da tristeza significa alegria - apesar de que a experiência revela o caráter dominante da tristeza que se mostra quase sempre presente na falta da tal da alegria e/ou motivo gerador. 

Para que alguém ouça, alguém tem que ter falado. Mas o fato de falar, não necessáriamente significa que alguém irá ouvir - a bem da verdade, boa parte de nossas palavras acabam se perdendo no silêncio, inclusive para nós mesmos.

Quando não se tem ninguém por perto, se está sozinho. Mas nem sempre só porque não tem ninguém por perto, se está só - na real, a pior solidão é aquela que aparece quando se está cercado de pessoas. Não se sabe como se resolve.

A atitude do covarde é sempre fugir. Mas nem sempre a fuga é atitude de um covarde - o que define isto é o que é feito após a fuga, tentar melhorar e voltar ou simplesmente ficar fugindo.

Morrer significa não ter vida. Mas não estar morto não significa necessariamente estar vivo - há um grande abismo entre viver e existir. 

E, se à beira desse abismo há hesitação, ainda existe algo em que se pode agarrar - às vezes, ao contrário do que sempre nos ensinam, se deve olhar pra trás. 


Quando o oposto faz sentido, é melhor meter os pés pelas mãos.
.

domingo, 9 de maio de 2010

Mãe

Mãe é o exemplo claro de que amor é cego - o filho é bonito, sempre o mais bonito.
Mãe é a última a desistir e a primeira a confiar.
Mãe também exagera - se não atendeu o telefone é porque foi preso ou sofreu acidente.
Mãe quase nunca erra em seus conselhos - testificam por mim os vários dias que tomei chuva porque não dei ouvidos.
Mãe não muda a percepção - mesmo com seus trinta e tantos, ainda é o filhinho.
Mãe tem percepção mágica - ela sempre sabia quando eu tinha derrubado coisas na cozinha, mesmo quando eu limpava tão direitinho.
Mãe tem percepção mágica (2) - tentar esconder alguma coisa é inútil (como sair escondido com os amigos).
Mãe dá bronca, pega no pé, dá uns cascudos e põe de castigo. Mas ainda dá risada quando a gente faz palhaçada.
Mãe sabe muito bem quando o choro é sincero. Ou se é apenas pra fugir da bronca (o que geralmente rendia mais algumas palmadas).
Mãe sacrifica, abre mão da vida e dos sonhos para que o filho possa viver e sonhar.
Mãe diz que filho é um presente de Deus, mas presente mesmo é o amor da mãe, que é o que mais se aproxima do amor de Deus.
Mãe tem seus momentos neuróticos, seus momentos difíceis e seus momentos de tristeza, mas não renega a responsabilidade que assumiu.
Mãe faz de tudo, mas sempre acha que ainda tem que fazer mais.

A minha conclusão é que faltam palavras para expressar o que 'mãe' realmente significa.
A minha convicção é que a minha dívida não poderá nunca ser quitada, mas isso não vai me impedir de tentar.
O meu agradecimento é por ser tudo isso e me ensinar a ser mais do que sou.
O meu presente é a promessa de fazer tudo para ser um filho que valha a pena.

E, claro, isso também vale para as avós que, por definição, são (mãe)².
.

domingo, 2 de maio de 2010

Linhas indeléveis, Compreensão cristalina


Dentre as diversas características da nossa sociedade, pode-se destacar o fato de que a cada dia os limites estão sendo superados, destruídos, desrespeitados ou ignorados. Enquanto em alguns aspectos esta tendência se mostra positiva, como no caso da ciência, tecnologia e relações internacionais, nos que se referem ao relacionamento humano e valores sociais, a inexistência (ou ineficiência) dos limites se mostra em grande maioria das vezes como nociva.

Os traços limítrofes não são responsáveis apenas por limitar as ações das pessoas, mas servem também como guia para que as atitudes e comportamentos sejam devidamente designados e compreendidos. O que ocorre é que com eliminação ou aversão aos limites, ocorre uma inversão e, consequentemente, uma perversão de valores. As atitudes são interpretadas de modo equivocado - a tolerância e o respeito são estampados nos estandartes dos auto-intitulados liberais, mas as suas ações estampam uma incapacidade de ser coerente com os valores apregoados, além de se colocarem na posição de eternas vítimas. 

Não estou aqui para defender uma estrutura social arcaica (ou antiga), nem mesmo para falar do sentimento derrotista decorrente da falta de perspectiva dessa sociedade. Até porque, em termos gerais, as sociedades são as mesmas desde sempre, os valores podem parecer diferenciados, mas proporcionalmente, tudo é o mesmo. (Assunto para um próximo texto, talvez.)  O meu (presente) manifesto é em prol do verdadeiro respeito e, acima de tudo, da compreensão. Acredito que para tal, algumas linhas devem ser traçadas e respeitadas. 

Das diversas confusões existentes, destaquei duas que tem se mostrado mais frequentemente na (minha) atual conjuntura: Naturalidade e Indiferença; Aceitação e Conformismo. Deixo claro de antemão que há espaço para cada uma das quatro posturas expostas abaixo, mas que assim como não devem ser confundidas, devem ser aplicadas em momento oportuno para tal. 

Naturalidade x Indiferença

Encarar algo sem estardalhaço ou se deparar com problemas sem que haja reações exageradas. A reação inicial tanto para a naturalidade como para a indiferença são bem parecidas. O que difere as duas é a origem desta reação inicial e as atitudes subsequentes. Enquanto a naturalidade é originada na maturidade atingida pela vivência ou compreensão de um assunto, a indiferença é originada na falta de comprometimento e na perspectiva egoísta da pessoa. 

Mesmo com a motivação aparentemente negativa, não estou dizendo que a indiferença não deve existir, aliás, muito pelo contrário. Há diversas situações em que devemos mesmo não nos comprometer e/ou agir de modo egoísta. O que estou tentando dizer é que as duas posturas não devem ser confundidas. 

Sobre a atitude subsequente, enquanto a indiferença acaba por se direcionar ao escárnio ou críticas excessivas, a naturalidade tende a reagir de modo centrado e visando atingir um cenário melhor, mesmo que a reação seja não fazer nada. Naturalidade é a versão adulta e engajada da indiferença, mas nem sempre é a melhor postura ou a mais correta. Neste dilema, tudo acaba sendo ad hoc. Cada curva do labirinto da caminhada pode exigir uma mudança - mas a ressalva, mesmo que não escrita em pedra, é que o age com naturalidade, sabe agir com indiferença. Já o indiferente age com indiferença até com a naturalidade.  

Aceitação x Conformismo

O último 'estágio da morte', segundo Elisabeth Kubler-Ross é a Aceitação. Por geralmente estar associado ao fim ou conclusão, geralmente este termo é compreendido também como conformismo. A falta de comprometimento das pessoas, decorrente também dos valores sociais se fiarem em uma base primordialmente egoísta, é um dos principais motivos para que haja essa confusão.

Reconhecer as suas reais condições e fazer o que esta ao alcance não é conformismo, é aceitação. Tem uma frase da Madre Teresa que retrata bem isso: "Se você não consegue alimentar 100 pessoas, alimente apenas uma." Conformismo seria entender que não se pode alimentar 100 pessoas e resolver não fazer nada. O mesmo acontece com as pessoas que possuem algum tipo de deficiência. Conformismo seria se isolar do mundo e, por causa da incapacidade de fazer algumas coisas, se ver como alguém "pior" que os outros. Aceitação é reconhecer que a deficiência existe, mas entender que a vida prossegue e vivê-la normalmente, mesmo que com algumas adaptações,   

Aceitar é a versão positiva e correta do conformismo. São atitudes parecidas mas com motivações antagônicas e, como dito anteriormente, há espaço para ambas posturas. A ressalva é que caso haja conformismo, que seja temporário. Já a aceitação, deve ser uma atitude perene.
.