quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Números, cifras e o que restou de nós mesmos

Esse post é um comentário/resposta ao post "Eita mundinho..." do Erick.


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Vivemos em uma sociedade de números e cifras (dinheiro). Para o mundo somos identificados como uma combinação de números - nossos registros, códigos de acesso, senhas, IP, etc. E o valor da combinação é dado apenas pelo que cada um é capaz de gerar em cifras. A equipe de limpeza, os professores de primário... o valor do trabalho deles não é facilmente traduzido em cifras - a visão do mundo é que se alguém só tem o primário, não é apto para trabalhos de grandes cifras. Por isso o professor de faculdade, de pós e mestrado ganham bem mais. Porque o resultado do trabalho deles é facilmente "transformado" em cifras de alto valor. Assim acontece também com as equipes de limpeza (garis, faxineiras e etc) - o trabalho deles não se traduz claramente em cifras, como se não houvesse ligação direta entre o trabalho deles com o que ocorre no local que eles trabalharam. Por esse motivo as empresas hoje terceirizam esse tipo de serviço - essa é a importância dada para isso. 


Não acho que isso seja algo apenas no Brasil e também não acho que é apenas culpa do sistema ou do capitalismo. Acho que tudo se resume no que você colocou no seu último páragrafo. Vivemos em um mundo em que a identidade de cada um é sobrepujada por essa combinação de números. Deixamos de ser os Luizes e Ericks e nos tornamos os 32.090.231-X e assim por diante. Uma sociedade individualista (acho isso um tremendo antagonismo) e voltada apenas para a satisfação (ou acomodação) do eu. Para que isso mude, há a necessidade de que as camadas mais instruídas (ou com maior influência - formadores de opinião) se engajem em tentar mudar um pouco a percepção de mundo.  


O problema é que o valor que a sociedade nos dá e também como responde às nossas palavras também está ligada a cifra que cada um possui. Quanto mais cifras temos ou geramos, mais nossa voz será ouvida - e, infelizmente também, menos ela se pronunciará. Claro que há exceções, mas elas se tornam cada vez mais raras. 


"Quando eu era jovem, queria mudar o mundo. Hoje me contento em mudar de carro, endereço e o canal da tv." - Eu realmente espero não chegar a esse ponto, mas convenhamos que a cada ano essa realidade tenta nos engolir.


Ainda creio que possamos fazer uma diferença no mundo, mas, já que não temos super-poderes ou somos multimilionários, isso vai depender da nossa compreensão de como o mundo funciona e da nossa capacidade de adaptar sem perder o foco. Assim caminhamos para nosso primeiro quarto de século.

2 comentários:

Mikhailovitch disse...

Estamos na base de uma montanha muito ingreme. Vivemos em uma democracia neolibreal. Pelo lado neoliberal o ignorante continua ignorante e o pobre continua pobre. Pelo lado democratico, os ignorantes e os pobres säo a maioria, logo nem sabem do jogo da politica neoliberal pra se opor a ela.

dicionarista-embaçado disse...

Valor é o ponto. Anos atrás me disseram que estavam medindo o valor das pessoas por suas posses, eu acreditei e fiquei possesso. Mas você começou certo: a gente recebe de acordo com o que gera. Se o salário no fim do mês não agrada, procure um lugar pra onde você possa mais atrair mais dinheiro. Isso vale pra tudo. Provoque risos e lhe farão rir. Provoque discussões e te farão pensar. Eventualmente você atrai o tipo de pessoa e situação a qual alimenta. Claro que eu estou, como sempre, já que é pra pensar, simplificando e deixando imensas lacunas... completem ai, da forma como quiserem. Mas a questão no fim das contas é simples: queremos ter o mesmo valor que geramos no mundo? De verdade?