quinta-feira, 15 de abril de 2010

Dígitos e Foco, Tiger Woods e Timing


Trata-se de um assunto recorrente. Com o empilhar dos anos e das escolhas feitas, somos destituídos da variedade de opções. Normalmente, me contento em apenas ter a memória. Mas em alguns dias, sinto saudades, até um pouco de falta, de quando os telefones tinham sete dígitos, os CEPs tinham cinco e minha idade tinha apenas um. Mas o intuito desse texto não é entrar em uma viagem nostálgica ou afogar-me no saudosismo de um tempo passado. Perder-se, mesmo que em palavras ou lembranças, é o bastante para se tirar o foco - e isto é algo que eu não posso me dar ao luxo de fazer.

Em um dos meus últimos textos, eu escrevi um pouco sobre essência. Consideremos que essência é aquilo que somos, independente do que nos cerca. O que quero tentar dizer é que há alguns costumes ou atitudes que temos que são reflexos de quem somos e não apenas a reação em relação a algo apresentado. E sobre essas reações, até que ponto ela realmente reflete o que somos e não apenas tudo aquilo que foi agregado pela sociedade e pela criação? Não acredito ser possível separar essência pessoal de valores adquiridos - as mudanças de atitudes ou valores só ocorrem quando no decorrer da vida, o indivíduo se depara com alguma coisa que se identifique diretamente com a essência, sobrepujando os valores impostos. Mas acho que essa discussão também não é o foco principal desse texto.

Por diversas ocasiões, temos que agir em nossas vidas com base na tentativa e erro. Considerando que podemos nos deparar com situações em que o caminho/procedimento certo não está claro, (praticamente todas as situações depois dos 18 anos) há a necessidade de eliminarmos as alternativas antes de escolhermos o rumo. Há momentos em que esse processo demora e todas as incertezas devem ser desfeitas para assinalar a alternativa correta. Em outras, a escolha certa é a primeira - como quando pegamos aquele molho de chave imenso e acertamos a chave correta de primeira. Improvável, mas possível. Traçando uma breve analogia (pra variar), vamos comparar esse processo de atingir objetivos com 3 esportes: golfe, bocha e basquete. 

No basquete, para se chegar ao objetivo (cesta), há apenas um modo - o arremesso. E o arremesso não tem pontos intermediários - é da mão do atleta para a cesta. Algumas das nossas tentativas de sucesso devem ser assim, sem obstáculos, dependendo apenas de você. Este é o cenário mais fácil (e mais raro) - apesar de todo o ambiente e dificuldade, quem determina o sucesso é simplesmtente o esforço próprio. 

No caso da bocha, o objetivo se fragmenta em fazer a sua estratégia (defesa) e atacar o seu oponente. Todos os arremessos são importantes - um arremesso errado pode comprometer toda a partida, impedindo que o objetivo seja alcançado. Em alguns casos, o jogador pode estar ganhando e acabar perdendo no último arremesso por um erro de planejamento. Este é o cenário mais comum no dia a dia - em tudo nos deparamos com competição, seja pra conseguir destaque no emprego ou para ganhar a atenção da garota nova. Não basta saber da sua capacidade, há a necessidade de saber lidar com a situação que se desenvolve e também ser capaz de defender as suas jogadas.

No golfe, o objetivo é algo distante e difícil. Para atingí-lo, em quase sempre há a necessidade de múltiplas tacadas - sendo que o sucesso final depende dos avanços iniciais, mesmo quando o objetivo ainda não está no campo de visão. Em alguns casos, a primeira tacada não vai nem na direção do buraco, mas é assim que deve ser para que o objetivo seja alcançado com sucesso. Como nesse texto, que nos dois primeiros parágrafos (tacadas), eu apenas me aproximei do cerne - para enfim, vendo a conclusão (buraco), eu desse a tacada final. Apesar de as primeiras tacadas não estarem no rumo certo, elas são essenciais para o preparo da conclusão. Nosso passado (primeiro parágrafo), nossa essência e o que encontramos no caminho (segundo parágrafo) são os elementos essenciais para se aprender a jogar direito. O menino de 10 anos que quer ser médico, precisa completar o ensino fundamental e ensino médio. Precisa também de um curso de idioma. Prestar vestibular, entrar na faculdade, se formar, fazer residência... enfim. Este é o cenário mais pessoal - todos temos objetivos (não tão) distantes que exigem pequenos avanços e mudanças de curso até chegarmos lá. 

Nos três cenários, há uma questão importantíssima - o timing. É essencial saber a hora certa de se mover, de falar e de se posicionar. Mas que fique claro: Há uma grande diferença entre 'não fazer nada' e 'esperar'.
.

Nenhum comentário: