domingo, 2 de maio de 2010

Linhas indeléveis, Compreensão cristalina


Dentre as diversas características da nossa sociedade, pode-se destacar o fato de que a cada dia os limites estão sendo superados, destruídos, desrespeitados ou ignorados. Enquanto em alguns aspectos esta tendência se mostra positiva, como no caso da ciência, tecnologia e relações internacionais, nos que se referem ao relacionamento humano e valores sociais, a inexistência (ou ineficiência) dos limites se mostra em grande maioria das vezes como nociva.

Os traços limítrofes não são responsáveis apenas por limitar as ações das pessoas, mas servem também como guia para que as atitudes e comportamentos sejam devidamente designados e compreendidos. O que ocorre é que com eliminação ou aversão aos limites, ocorre uma inversão e, consequentemente, uma perversão de valores. As atitudes são interpretadas de modo equivocado - a tolerância e o respeito são estampados nos estandartes dos auto-intitulados liberais, mas as suas ações estampam uma incapacidade de ser coerente com os valores apregoados, além de se colocarem na posição de eternas vítimas. 

Não estou aqui para defender uma estrutura social arcaica (ou antiga), nem mesmo para falar do sentimento derrotista decorrente da falta de perspectiva dessa sociedade. Até porque, em termos gerais, as sociedades são as mesmas desde sempre, os valores podem parecer diferenciados, mas proporcionalmente, tudo é o mesmo. (Assunto para um próximo texto, talvez.)  O meu (presente) manifesto é em prol do verdadeiro respeito e, acima de tudo, da compreensão. Acredito que para tal, algumas linhas devem ser traçadas e respeitadas. 

Das diversas confusões existentes, destaquei duas que tem se mostrado mais frequentemente na (minha) atual conjuntura: Naturalidade e Indiferença; Aceitação e Conformismo. Deixo claro de antemão que há espaço para cada uma das quatro posturas expostas abaixo, mas que assim como não devem ser confundidas, devem ser aplicadas em momento oportuno para tal. 

Naturalidade x Indiferença

Encarar algo sem estardalhaço ou se deparar com problemas sem que haja reações exageradas. A reação inicial tanto para a naturalidade como para a indiferença são bem parecidas. O que difere as duas é a origem desta reação inicial e as atitudes subsequentes. Enquanto a naturalidade é originada na maturidade atingida pela vivência ou compreensão de um assunto, a indiferença é originada na falta de comprometimento e na perspectiva egoísta da pessoa. 

Mesmo com a motivação aparentemente negativa, não estou dizendo que a indiferença não deve existir, aliás, muito pelo contrário. Há diversas situações em que devemos mesmo não nos comprometer e/ou agir de modo egoísta. O que estou tentando dizer é que as duas posturas não devem ser confundidas. 

Sobre a atitude subsequente, enquanto a indiferença acaba por se direcionar ao escárnio ou críticas excessivas, a naturalidade tende a reagir de modo centrado e visando atingir um cenário melhor, mesmo que a reação seja não fazer nada. Naturalidade é a versão adulta e engajada da indiferença, mas nem sempre é a melhor postura ou a mais correta. Neste dilema, tudo acaba sendo ad hoc. Cada curva do labirinto da caminhada pode exigir uma mudança - mas a ressalva, mesmo que não escrita em pedra, é que o age com naturalidade, sabe agir com indiferença. Já o indiferente age com indiferença até com a naturalidade.  

Aceitação x Conformismo

O último 'estágio da morte', segundo Elisabeth Kubler-Ross é a Aceitação. Por geralmente estar associado ao fim ou conclusão, geralmente este termo é compreendido também como conformismo. A falta de comprometimento das pessoas, decorrente também dos valores sociais se fiarem em uma base primordialmente egoísta, é um dos principais motivos para que haja essa confusão.

Reconhecer as suas reais condições e fazer o que esta ao alcance não é conformismo, é aceitação. Tem uma frase da Madre Teresa que retrata bem isso: "Se você não consegue alimentar 100 pessoas, alimente apenas uma." Conformismo seria entender que não se pode alimentar 100 pessoas e resolver não fazer nada. O mesmo acontece com as pessoas que possuem algum tipo de deficiência. Conformismo seria se isolar do mundo e, por causa da incapacidade de fazer algumas coisas, se ver como alguém "pior" que os outros. Aceitação é reconhecer que a deficiência existe, mas entender que a vida prossegue e vivê-la normalmente, mesmo que com algumas adaptações,   

Aceitar é a versão positiva e correta do conformismo. São atitudes parecidas mas com motivações antagônicas e, como dito anteriormente, há espaço para ambas posturas. A ressalva é que caso haja conformismo, que seja temporário. Já a aceitação, deve ser uma atitude perene.
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