Compreensão era algo que há muito perdera seu valor e, por assim dizer, a razão também lhe esvaía por entre os dedos. O vento e o sol expressavam com exatidão a contradição harmoniosa existente na sua alma. Com o cálido toque do astro-rei, relembrava-se da situação que aparentemente perduraria por outras jornadas. Com a gélida sensação das golfadas de vento intermitente, a calma e o refrigério que desafiavam os últimos resquícios de argumentação.
Esperava pelo troco no estacionamento, quando se aproximou cabisbaixo o cachorro de um estranho na esquina. Como quem espera aceitação, olhou para o alto e esperou, inexplicavelmente, por um afago. Decidiu aquiescer ao suposto desejo canino e, até a chegada da atendente, divertiu-se com o animal e sua cara de chorão. Já a caminho da rua, ouviu os últimos latidos, talvez uma despedida ou, quiçá uma reclamação gerada pela ignorância da brevidade do encontro. O sol ainda brilhava forte no céu, mesmo ainda faltando algumas horas até o meio-dia.
As ruas estavam vazias e, o caminho já feito por inúmeras vezes anteriormente, se apresentava como algo renovado. Talvez fosse apenas o asfalto recauchutado, as placas novas e os prédios recém-construídos. Talvez, e era assim que ele preferia acreditar, fosse por ver o caminho sob uma nova luz. O caminho se estendeu tanto quanto deveria e, em breve, estava de volta ao lugar de origem, mesmo não sendo o mesmo lugar.
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