segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Escrito na pedra


Na sua lápide estava escrito: O mundo é ignorante.
 
Cansou da desobjetividade da sua existência efêmera. Decidiu deixar pra trás o ponto sem nó. Nada mais de partida, sem vinda. Nem sexo sem nexo. "Quo Fata Ferunt", declamou à egrégora de pessoas feitas de vento que compravam e o ignoravam na loja.
 
Quem muito fala, muito se expõe. Aí foi acometido pela lepra social. Cada passo pra frente era respondido com dois alheios pra trás. Ignorado pelos amigos imaginários, esquecido pelos amores platônicos, e sofrendo de inanição por se alimentar apenas de frutos da sua imaginação. A alma estava desnutrida pela falta de fé, o espírito combalido pelo combate perdido.
 
A fuga durou pouco e a insustentável situação em que vivia o impulsionou a uma busca desesperada por algum contato, o mínimo se sequer. Privado de abraços e sorrisos, definhou até que riu sozinho.
 
Na carta deixada para os familiares que foram incumbidos do enterro, apenas uma frase que foi gravada eternamente aos olhos cegos de quem não queria ver. E o mundo seguiu ignorante.
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