quarta-feira, 4 de julho de 2012

Madame Inspiração

A realidade mata a inspiração? Eu discordo.

A realidade (ou maturidade, se assim preferir) faz o que ela tem que fazer - separa os que realmente querem algo daqueles que apenas dizem querer. Separa os meninos dos homens.

A diferença é que com o passar do tempo, as prioridades mudam. As certezas começam a criar raízes, mesmo as que nos incomodam. Cada passo a ser dado é feito com o peso crescente da irreversibilidade e inevitabilidade. Se a sua inspiração era baseada na melancolia da dúvida, é provável que com o tempo haja uma desertificação na sua criatividade.

Não consigo mais escrever contos de amor pueril, porque não sou mais criança.

Não consigo mais escrever contos de melancolia profunda, porque não me sinto sozinho.

Não consigo mais escrever poesias de anseios amorosos, porque já encontrei alguém que amo.

Quando leio o que escrevia, tenho a sensação de que foi escrito por outra pessoa. A verdade é que foi outra pessoa, foi o "eu de ontem". O "eu de hoje" não sofre mais pelos mesmos motivos e, por conseguinte, também não se inspira pelos mesmos motivos. Da mesma forma, pode ser que você também não gere o impacto de antes ou tenha o alcance que tinha / julgava ter. A realidade (vida) firma os seus pés no chão a qualquer custo, mesmo que seja preciso cortar um pouco as suas asas.

Não, a vida não respeita a opinião dos seus pais e amigos.
Não, a vida não é um mar de rosas.
Não, a vida não vai mudar só porque as coisas estão erradas.
Não, a vida não aceita desculpas esfarrapadas para seus insucessos.
Não, a vida não é justa.

Não, a vida não acaba aqui.

Talvez até este momento, o texto parecia pessimista e determinista, escrito por alguém que optou por se entregar aos delírios do destino e se isentar da responsabilidade das mudanças que acontecem. Todavia, assim como a tal da vida adora ter suas reviravoltas, nos textos (pensamentos, reflexões e opiniões) há sempre margem para um "entretanto".

Como disse lá no começo, as prioridades mudam. Se temos como ajustar nossas expectativas para englobarem estas novas prioridades, creio que seja possível também mudar a raiz (ou razão, em bom radical latim) da nossa inspiração.

A realidade não mata a inspiração. Apenas te obriga a mudar de musa.

Nenhum comentário: