segunda-feira, 5 de julho de 2010

Pequenas vitórias e a frustração dos milestones


Nos últimos meses, andei rascunhando um texto sobre os marcos que temos durante a vida, quase todos como rituais de passagens para aceitação na sociedade. Estava lendo o último post do Marcel e achei uma boa idéia tentar desenvolver o tópico, usando uma abordagem mais empírica. 


Em linhas gerais, o marco principal da vida de uma pessoa é quando ela deixa de ser uma criança e se torna um adulto. Em algumas culturas, deve-se passar por um tipo de provação para mostrar que atingiu a maturidade para ser considerado um adulto. Pensando na nossa sociedade atual, a "provação" seria tirar a carta de motorista ou entrar em uma faculdade. Convenhamos que isso de forma alguma estabelece a maturidade do infante que supostamente se tornou responsável pelas suas ações. Independente da valia dos marcos, eles não deixam de existir. Passar no colégio, ser aprovado no vestibular, tirar carta de motorista, passar na faculdade, arranjar um bom emprego, casar, ter filhos. 


A verdade é que a pressão colocada sobre o menino de 14 anos que tem que ficar sobre uma pilastra por dois dias ou do outro rapaz que precisa ingerir os fluídos dos anciões da vila para que se tornem adultos é de certo modo menor do que a que é colocada sobre nós. Para estas culturas, após esse ritual, eles já estão aprovados. Agora para nós, os eternos estudantes e trabalhadores, a pressão nunca acaba. Como o Marcel indicou bem no texto dele, há sempre a espera pelo próximo passo, o próximo milestone.


O que quero destacar é que se trata de uma postura humana, independente da cultura, de se criar grandes marcos no decorrer da vida da pessoa. E tentar nortear nossa vidas com base nestes pontos jogados ao léu. O que acontece é que até se entrar no colégio, não há muito espaço para desvios no caminho traçado, porém, após esse ponto, tudo se torna variável ao extremo. Ao contrário do que acontece com culturas mais antigas, a sociedade urbana atual impede que esses marcos sejam claros e, por conseguinte, impede que as pessoas consigam passar por eles de modo natural.


Mesmo após todo esse vai-e-vem sociológico, não perdi o foco principal. Quando falei sobre abordagem empírica, quis falar sobre a minha experiência e, sem dúvida, a de diversos amigos e colegas. Salvo os poucos que realizam os seus sonhos e planos sem desvios no caminho, os outros passamos por diversas provações. Uma amiga entrou em depressão por não conseguir estabelecer qual era o próximo marco que ela deveria atingir - isso a afetou de tal modo, que a sensação de deslocamento se tornou insustentável, recorrendo para um isolamento nocivo. Alguns amigos estão passando por mudanças drásticas em relação a carreira profissional, outros, mesmo aparentemente bem sucedidos, relutam para encontrar uma motivação maior para as suas atuações. Eu ainda brigo todos os dias com a convicção que insiste em crescer de que me tornei inútil e incapaz. E tudo isso porque a pressão de atingir o próximo marco pesa sobre nossa vidas - encontrar um (bom) emprego, achar uma companheira, ter estabilidade financeira.


O fato é que se encararmos a vida como uma sucessão de grandes "linhas de chegada" é quase uma receita infalível para a frustração ininterrupta. Para que isso seja evitado, temos que nos focar no passo-a-passo, nas pequenas vitórias (ou derrotas) que temos durante a vida. Como escrevi nesse texto, são os detalhes que mudam a nossa perspectiva do todo. Percebi que não adianta encontrar um bom emprego apenas - a satisfação será apenas temporária, porque logo aparecerá a pressão pelo próximo 'grande acontecimento'. Como comentei lá no texto do Marcel, tudo que se precisa é uma viagem com os amigos, aprender algo ou ir a um lugar diferente, se esforçar para não perder o fim de semana para o desânimo. 


Admito, todavia, que ando perdendo muito mais essa luta do que vencendo, admito que a vontade de me tornar mais recluso e distante tem sobrepujado o meu anseio de dar pequenos passos em direção a um lugar desconhecido (e sem saber o quão longe estou de chegar). Mas ao menos, posso admitir para mim mesmo que sei o que posso mudar para tentar ser melhor. Pelo menos para o dia de hoje, que é o que a mim cabe.
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