sábado, 17 de maio de 2008

Jogo da Vida

Há quem acredite que dizer que a vida é um jogo passa uma imagem de frieza e calculismo - ou apenas de falta de compromisso e ludismo nocivo e exacerbado. Eu acredito que, a grosso modo, nossa vida é uma espécie de jogo, mas como um daqueles de passar de fase.

Às vezes, as fases são consecutivas - e assim as vezes somos testados na mesma questão em "níveis" diferentes. Exemplifico:

Um rapaz que é muito "nervoso" e precisa ser mais paciente. Pode ser testado do seguinte modo - considerando como nome da fase "Nervoso->Calmo":
- Nível 1 - ser fechado no trânsito;
- Nível 2 - não receber um relatório do seu funcionário;
- Nível 3 - ouvir um monte de reclamação e;
- O chefão - levar a mulher para fazer compras na véspera de natal.

Estas são realizadas de modo "paralelo", ou em mundos diferentes. Antes de chegar ao chefão do "Nervoso->Calmo", há a primeira fase de "Tímido->Comunicativo" e uma fase bônus "Aprendendo a dançar salsa" no meio.

Obviamente, na vida sempre estamos vivendo (ou jogando) fases múltiplas que se cruzam e influenciam umas às outras - por exemplo, ser mais comunicativo pode gerar um melhor entendimento dos outros e, portanto, ser mais calmo. E por aí vai. As concomitâncias das nossas fases tornam a vida mais parecida com um jogo de tabuleiro, de estratégia. Cada movimento é uma fase e tem direta influência no todo - em alguns jogos, o primeiro movimento decide sucesso ou fracasso.

Em todos esses jogos, seja virtual ou real, há sempre um "inimigo" a ser derrotado. Uma "missão" a ser cumprida e aqueles que querem te impedir de completá-la - sejam os jacarés do Pitfall ou os cavalos e bispos do xadrez. No nosso "jogo", toda a batalha é contra nós mesmos. No dia a dia, se não há êxito é porque nós nos limitamos, nós nos derrotamos e não há celebração do vencedor.

Eventualmente, arranjamos um jeito de nos colocarmos em xeque. Em tudo que você pode imaginar - principalmente naquilo que vai de encontro aos nossos princípios. Algumas vezes, o xeque não vem para contradizer, atacar ou derrubar - a não se que seja um xeque-mate. Apesar de não saber jogar xadrez, sei que o xeque é apenas um aviso extremamente claro de que se está em perigo - e que dificilmente se sai dessa situação. Apenas exímios jogadores conseguem escapar de um xeque - para os reles amadores, resta a contagem para o fim da partida.

Tudo aquilo que você julga ser bom ou especial, será colocado em xeque para que você possa ser de fato um exímio "jogador" nesse quesito. Se você toca um instrumento, será colocado à prova quando for apresentada uma peça musical que seja quase impossível de tocar - e, como nos videogames, de nada adianta chegar no chefão e não passar. Não se fecha o jogo parando na última fase.

Há de se considerar também, evidentemente, que há algumas fases que não devemos passar - ser exímio mentiroso ou exímio traidor não o levará a lugar algum, ou a nenhum lugar que você queira realmente ir. Não encorajo o pensamento de "se não consegui é porque não era para ser" - para tudo há uma explicação, mesmo que não seja lógica e mesmo que não seja agora.

Acredito que fraco não é quem desiste vez em quando, mas sim quem escolhe "jogar" onde não é possível vencer a si mesmo ou jogar apenas "a brinca" e não "a ganha". E, no final do texto, não há uma mensagem te encorajando a não desistir. Deixo apenas:

1) A oferta de ajuda (dar aquela dica na jogada ou até trazer um "continue" quando tiver quase "morrendo");
2) O desejo sincero de que você passe apenas nas fases que tem que passar, abandonando os joguinhos (aqui no sentido negativo) da vida que mais consomem o tempo e nos impedem de focar naquilo que realmente interessa.

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Muitos parênteses e travessões, muitas explicações.
Muitas aspas, auspicioso de deixar explícito o que fora dito.
Não existe clareza em excesso.

Um comentário:

dicionarista-embaçado disse...

Não existe clareza no excesso.

Durante a leitura fui exaurindo cada vez mais a metáfora, pensando em alguns chefões que, a exemplo de Andore – Final Fight, Capcom, 1989 – têm a barra de energia em cores diversas e você nunca sabe de verdade se está próximo de matá-lo.

A gente tem a ilusão de que os jogos são complexos como xadrez... mas não passa de tetris. Colocar as coisas no lugar.

Haggar – o prefeito.