sexta-feira, 12 de junho de 2009

Coragem, Amor, Exoesqueletos e o Megazord

Diálogo no dia de São Valentim...
*Do lado de cá do mundo acontece no dia 12/junho ao invés de 14/fevereiro - deve ser o fuso-horário.

(...)

A: Mas, você mostra o que tem dentro de você e ao mesmo tempo se esconde ainda mais?

B: Isso. É como se eu desenvolvesse um exoesqueleto.

A: O que?? Como assim?

B: O esqueleto é algo que fica dentro, mas serve para proteger os órgãos internos. Então, eu desenvolvo esse exoesqueleto - ponho à mostra algo que "vem de dentro", mostrando um pouco do que guardo dentro de mim, mas ao mesmo tempo, escondo e protego ainda mais o que realmente fica lá dentro do peito. Entendeu?

A: Ou seja, você mostra que tem algo aí dentro só que dificulta ainda mais o alcance?

B: Pode-se dizer que sim. Boa parte das pessoas se contentam em ver apenas um pouco do que você guarda dentro de si - isso serve para fazê-las parar do lado de fora mesmo e já se darem por satisfeitas. Assim nascem os relacionamentos pseudo-profundos - somos tidos como caras sensíveis e isso facilita a nossa defesa.

A: Saquei. E você acha que isso ocorre por instinto, algo natural, comum a todos?

B: Não, isso não ocorre normalmente - essa decisão decorre de experiências passadas. Cada vez que alguém consegue chegar ao que realmente movimenta a vida e o fere, faz com que a gente tente se proteger mais da próxima vez. Em alguns casos, a gente apenas desiste de enfrentar. Não se protege mas fica em constante fuga - acho que o instinto básico é fugir quando não se conhece a força do oponente, nunca lutar.

A: Mas, esse desenvolvimento de barreiras tem que ter um limite, certo?

B: O limite quem traça é a gente. Daqui a pouco, por ter tanta proteção ou barreira em volta, todos ao redor não conseguem mais ver a humanidade em nós. E talvez requeira um esforço tão grande de quem está do lado de fora, que a pessoa eventualmente desiste por causa da dor ou da frustração. Como os Megazords do Power Rangers. Do lado de fora, é um robô gigante mas lá dentro tem algo humano, por trás de uma barreira quase intransponível.

A: Pô, mas os Power Rangers podem sair de dentro dos Zords quando querem, ora!

B: Sim, e nós também podemos nos despir do nosso exoesqueleto. Mas, na existência maniqueísta deles, o bem deve derrotar o mal a todo custo e isso faz com que a coragem se torne o catalisador máximo das ações deles. Virtude de herói, né?

A: Então o que você acha que temos que fazer?

B: A gente só consegue "voltar a ser humano", quando nos livramos dessa barreira e o primeiro passo é querer se livrar dela - sem dúvida, há a necessidade da ação de um fato externo para que isso comece a acontecer. Depois vem o empenho e força para sair da zona de conforto. E, por fim, a coragem de não sair correndo depois que nos deparamos tão humanos.

A: Parece bem difícil de acontecer, fora a determinação hercúlea pra que tudo dê certo.

B: De fato, pensando logicamente, a possibilidade de acontecer é muito remota. Mas, justamente essa lógica é também a maior fraqueza disso tudo. Ficar escondido por tanto tempo faz com que vejamos as coisas apenas da nossa perspectiva e, convenhamos, a grande maioria das pessoas é bem previsível. Sem perceber, criamos um padrão de ação. E contemplamos, para nossa defesa, uma gama ampla de eventos, mas sem dúvida desconsideramos alguns. E, é exatamente isso que faz com que a defesa tão forte seja também tão frágil - o "Calcanhar de Aquiles". Conseguimos nos defender impecavelmente dos ataques padrão, mas quando algo vem fora do radar, dificilmente saímos intactos.

A: Pensando assim, não seria mais fácil então nem criar esse tal exoesqueleto?

B: Seria mais simples, mas não seria mais fácil. Já fugi por um tempo, me escondi por outro tanto. Eu não tenho coragem de herói, apesar virtudes, tenho diversos vícios e, ainda por cima, eu não sei se acredito no que tem lá do lado de fora. Acho que só continuei porque ainda acredito no que tem aqui dentro e lá em cima.

A: No fim das contas, é uma questão de fé, né?

B: Sem dúvida. Mas também tem um pouco de genética na história...

(...)

3 comentários:

Mikhailovitch disse...

Bom, apesar de tudo, sempre teremos pontos fracos

Denise Borges disse...

Adorei a genética! ;)

Unknown disse...

023 says...
B: A gente só consegue "voltar a ser humano", quando nos livramos dessa barreira e o primeiro passo é querer se livrar dela - sem dúvida, há a necessidade da ação de um fato externo para que isso comece a acontecer. Depois vem o empenho e força para sair da zona de conforto. E, por fim, a coragem de não sair correndo depois que nos deparamos tão humanos.
comment: só precisa de um fato externo se vc não quer se livrar da barreira. E sair correndo de humanos? vc? isso tá mais com cara de DeDe...

A: Parece bem difícil de acontecer, fora a determinação hercúlea pra que tudo dê certo.
B: De fato, pensando logicamente, a possibilidade de acontecer é muito remota. Mas, justamente essa lógica é também a maior fraqueza disso tudo. Ficar escondido por tanto tempo faz com que vejamos as coisas apenas da nossa perspectiva e, convenhamos, a grande maioria das pessoas é bem previsível. Sem perceber, criamos um padrão de ação. E contemplamos, para nossa defesa, uma gama ampla de eventos, mas sem dúvida desconsideramos alguns. E, é exatamente isso que faz com que a defesa tão forte seja também tão frágil - o "Calcanhar de Aquiles". Conseguimos nos defender impecavelmente dos ataques padrão, mas quando algo vem fora do radar, dificilmente saímos intactos.
comment: sim, as pessoas são previsíveis, são humanas! A graça de crescer está em aprender com as 'ataques' que vem fora do radar. Não saímos intactos, mas isso não é necessariamente ruim.

A: Pensando assim, não seria mais fácil então nem criar esse tal exoesqueleto?
B: Seria mais simples, mas não seria mais fácil. Já fugi por um tempo, me escondi por outro tanto. Eu não tenho coragem de herói, apesar virtudes, tenho diversos vícios e, ainda por cima, eu não sei se acredito no que tem lá do lado de fora. Acho que só continuei porque ainda acredito no que tem aqui dentro e lá em cima.
comment: se não acredita no que está fora, por que não fica aí dentro, sozinho? Tem um fundinho de fé no que é externo sim... Tem, porque tem fé na criação do que tá lá em cima.

A: No fim das contas, é uma questão de fé, né?
B: Sem dúvida. Mas também tem um pouco de genética na história...
comment: ai a genética...


007 says...
mas essa é a questão. A gente não quer se livrar da "armadura" se algo do lado de fora não faz valer a pena. Você está em casa, tá tudo confortável. Você quer comer uma maçã, mas olha do lado de fora e não tem maçãs... você vai andando pela casa e olhando pra fora. Enquanto não acha uma macieira, você não sai de detrás dos muros. O problema é que as vezes a gente começa a morrer de fome...

Ora, instintivamente somos todos iguais. Se tem medo, a gente corre.

A idéia é não se prender ao fato do que é previsível, mas tentar se desarmar para que venha o imprevisível - e que isso não nos destrua ou desestruture com tudo. E, como disse, não tem como sair intacto - mas, de fato, nunca disse que isso é ruim.

...as vezes a gente sai de dentro da casca por fé ou por necessidade, certo? As vezes a gente não acredita no que tem lá fora, mas precisa sair pra justamente não morrer sozinho.


023 says...
Peraê, peraê...
Se você não acredita no que tá lá fora, se é tudo previsível (blargh!), pra que sair e não morrer sozinho?! Confundiu...


007 says...
as vezes a gente não sai pra encontrar alguém. a gente só sai porque não aguenta mais ficar dentro do seu mundo.
neste caso, não há necessidade de um fator externo. Mas também só ocorre em ultima instancia, quase sempre já é tarde demais.