segunda-feira, 29 de junho de 2009

It's better when it's real

Comprava roupas uma vez a cada semestre e apenas o necessário para compor um pequeno conjunto de vestimentas para convívio social. Duas calças jeans era o que precisava - quando uma estragava, comprava outra para manter o par. Umas camisas polo, algumas camisetas e camisas sociais - sempre substituídas quando usada até o limite, com as golas já gastas e cores desbotadas. No canto do guarda-roupa deixava as camisetas velhas, aquelas de malha leve, surradas, algumas beirando meia década ou até passando dessa marca. Ele as usava quando estava em casa, quando ia a algum almoço na casa de algum parente ou quando saía com os amigos. Era pra ele a demonstração de que estava extremamente à vontade nessas situações, além de ser um sinal de que manteve a forma nos últimos anos.

No começo, era motivo de graça, mas depois de um tempo ele começou a odiar o fato de ela sempre criticar o seu costume de usar essas camisetas velhas durante a semana. Ele tentava explicar que eram as mais confortáveis e que com elas se sentia à vontade. Ela dizia que ele parecia um mendigo ao lado dela, que sempre usava roupas de marca e fazia visitas a cada quinze dias no shopping da cidade para renovar o estoque de roupas, calçados e acessórios. Sempre vaidosa, usava milhares de cremes e shampoos diferentes, no banheiro as maquiagens e apetrechos se acumulavam num monte sem fim de cores, odores e instrumentos que bem poderiam ser usado por Torquemada.

Ele também dava risada no início, mas com o tempo ele passou a odiar o fato de não conseguir encontrar a escova de dente no meio da bagunça e de ter que driblar os sapatos e vestidos no chão para chegar ao guarda-roupa nos dias de festa. Isso sem falar da demora de quase 3 horas pra ficar pronta. Ela odiava o fato de ele chamá-la de louca bagunceira ou de fazer aquela cara de nojo quando via alguns cabelos emaranhados no box do banheiro. Só o tempo pra explicar em que ponto a "docinho" virou louca e o "paixão" virou mendigo. Se bem que, a bem da verdade, eles simplesmente adicionaram essas adoráveis alcunhas às previamente existentes. Via-se ali aquela velha história de amar com os defeitos e não apesar dos defeitos.

É mentira que dizem que quando se ama até o que é feio fica bonito. Mas até nisso consegue-se identificar e achar motivo pra amar. Não apesar do que é feio. Não superando o que é feio. Parece balela de amor romântico, mas com os dois pés no chão, o amor é muito mais real do que aquilo que os romancistas escreviam de nefelibatas, parceiros idealizados e amor que só aceita perfeição. O fato é que mesmo com o amor, continua feio. Ela continua sendo bagunceira e ele continua parecendo mendigo. Mas, no fim do dia, ela antes de tudo é a docinho e ele o paixão.

Como disse o Marcel no seu último texto (sic):

"ela tem os dentes amarelados
os olhos juntinhos
de manhã remelados
mas o q eu quero
é ela do meu lado"

Amar de verdade faz com que até os defeitos não sirvam para fechar as portas, mas sim para abrir os braços. Só pra tê-la ao seu lado.

2 comentários:

Mikhailovitch disse...

e não só isso...

Denise Borges disse...

"...com os dois pés no chão, o amor é (...) mais real..."
E sem modéstia, fala a voz da experiência.
(Luiz, sem piadinhas sobre a idade!)