quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Jimmy Quest - Capítulo 02

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O cachorro era um jack russel, igual àquele do filme. Disseram que seria o cachorro ideal para ele, não apenas pelas condições que vivia, mas também pela sua personalidade. Ele nunca acreditou muito nesse disse-me-disse de um que tem cara disso e outro que tem cara daquilo, mas resolveu apostar - independente da situação, ele sempre optava por dar um voto de confiança e talvez esse fosse um dos motivos de ter se isolado em sua fortaleza, apenas descendo às ruas e ao povo quando lhe aprazia. Ao menos era assim que era visto por alguns que o cercava. Quando deu conta de si, o atendente da petshop estava acenando, trazendo-o de volta à realidade. Gostou do bicho desde o primeiro instante, levou-o pra casa com toda a parafernalha necessária para se cuidar de um cachorro e já levou alguns brinquedinhos pra quando ele crescesse um pouco. Apenas alguns dias de vida, os olhos haviam acabado de se abrir. Deu o nome de Chuck e aos poucos o animal de estimação cresceu, tanto fisicamente quando no peito do seu até então isolado dono.

Depois de uns meses, ele percebeu porque disseram que o cachorro tinha a ver com a personalidade dele. O cachorro não latia quase nunca, até um pouco taciturno para um filhote. Gostava muito de brincar mas só quando estava perto de quem conhecia, quando não gostava de alguém não fazia questão nenhuma de disfarçar. Uma coisa era fato, se ele latia é porque ia morder - com ele não tinha meios-latidos. Comia de tudo e aos poucos foi conquistando seu espaço à mesa, tinha dia que até escolhia o prato. Quando fazia alguma coisa errada, já ia se escondendo, fazendo cara de coitado pra não apanhar (quase nunca adiantava, mas não custava tentar né?) e colocando o rabinho entre as pernas. O dono sabia que se tinha algum vaso quebrado, xixi no carpete ou marca de dentes no cadeira da cozinha era só olhar debaixo do sofá. Quando ia dormir, fazia questão de ir até a cama do dono dar um beijinho de boa noite. Nos dias de insônia, tinha um companheiro que tentava ficar acordado junto, mas acabava dormindo ao pé do sofá.

Ele, o dono, aprendeu aos poucos como era não apenas se preocupar e cuidar de à distância, sem se envolver. Ele viu como é compartilhar a vida com alguém, como é ser compreendido no silêncio e também entender pequenos gestos. Nada daquela filosofia clichê de "aprenda a ver o raio de sol atrás das nuvens cinzas" ou "elogie e aproveite as pequenas coisas" - diga-se de passagem ele sempre odiou essa ladainha toda. O fato aqui era real - no dia a dia, ficando nervoso com algumas atitudes, felizes com outras, grato por ter um companheiro para andar no parque ou assistir algum filme de madrugada. A vida real não dá margem pra romance cheio de firula, até o mais bem sucedido dos homens pode ser um miserável entre as quatro paredes do seu lar. E, graças ao seu novo amigo, ele estava aprendendo a deixar de se sentir assim. Sentimentos dessa estirpe não são extintos por terceiros, sejam humanos ou caninos.

E a primeira muralha começou a cair e aos poucos ele aprendeu a aceitar um convívio mais próximo com seus amigos humanos e até com outros conhecidos que outrora não tentaria nem fazer contato. Ele percebeu que nesse desespero de se proteger, ele acabou se trancando pra fora.

Se essa era a primeira, quantas mais teriam de cair para que aquilo que era tão hermeticamente guardado ser revelado?

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